terça-feira, 29 de setembro de 2009

...eu vou...

celebração das vindímas - exposição joão cutileiro
Inauguração:2 de Outubro, 18.00h com a presença do artista João Cutileiro
A vinha, cultivada desde tempos imemoriais, está associada a um conjunto de experiências ancestrais que chegaram aos nossos dias. Em Pinhel, a vinha, a vindima e o vinho, que ocupam um lugar de destaque no quotidiano e economia locais, merecem ser celebradas com o requinte e a Arte de quem conhece a essência do “néctar dos deuses”. É neste contexto que o grande mestre João Cutileiro traz a Pinhel um conjunto de trabalhos a que chama “Celebração da Vindima”… São esculturas e desenhos saídos das mãos e dos pensamentos de quem conhece a razão e a força que atrai e cativa os olhares desprendidos das pessoas que vêem na simplicidade das formas abstractas a vontade de crescer culturalmente.
Organização:Município de Pinhel – Museu Municipal / Falcão EM

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

...eu vou...


"a desfaçatez a desvergonha o dilate de carlos pinto"

"Ainda esta semana vai a meio e já fui bombardeado por duas vezes com panfletos publicitários do candidato do Partido da Covilhã (leia-se PSD).
O primeiro foi emitido pelo candidato Carlos Pinto em papel timbrado da Câmara Municipal para anunciar uma obra reclamada pelos moradores da freguesia de Boidobra há já cerca de oito anos, pela voz e escrita do seu Presidente de Junta. O requinte da carta leva a que, incluso faça chegar a planta onde a obra se vai realizar. Confesso que quando recebi o dito cujo, a única coisa que me lembrou foi de fazer as contas de quanto teria custado aos munícipes este panfleto de campanha eleitoral do PSD e cheguei ao valor de mais ou menos 2.500.00 €, isto se foram impressos tantos panfletos quantos os fogos existentes na freguesia. Que falta esse dinheiro faria para pagar a fornecedores com facturas em atraso. Mas mais grave é o município gastar este dinheiro para fazer campanha partidária o que chega a ser obsceno.
Mas hoje a saga continuou, e para meu espanto, recebi na caixa de correio, não 1 ou dois mas sim 3 papelinhos do mesmo candidato. Um faz anunciar que o candidato estará amanhã no largo da igreja o que me parece perfeitamente normal. O que de anormal tem o papelucho é dizer isto “Assinatura de compromisso eleitoral com o cabeça de lista do PSD à Assembleia de Freguesia e Associações da Freguesia da Boidobra” mas mais, “assinatura de contrato eleitoral entre Carlos Pinto, candidato à Câmara da Covilhã e o cabeça de lista do PSD à Assembleia de Freguesia”. Então é assim: Se o Partido da Covilhã ou PSD (ninguém entende a trapalhada) ganhar as eleições na Freguesia da Boidobra vai haver obra senão que se danem. Chama-se a isto, chantagem, Sr. Carlos Pinto. Lembro que já nas eleições anteriores o mesmo figurante fez a mesmíssima coisa e isso leva-me ao segundo papelinho, (programa eleitoral do mesmo partido) que diz;
Titulo: Compromisso conjunto Câmara/Freguesia da Boidobra. Logo o título contém um grande e grave equivoco Sr. Carlos, então se é um compromisso entre as duas autarquias não o deviam assinar, ou melhor, já ter assinado com o actual Presidente de Junta?
Senão vejamos o rol de obras exigidas pela freguesia na pessoa do Sr. Prof. José Pinto que tanto tem feito por esta população desde 1989 e que este Presidente de Câmara teimosamente e de forma sectária tem recusado pela simples razão de esta freguesia ser a única do concelho da Covilhã governada por gentes ligadas, ou simpatizantes da CDU. Esta é a freguesia considerada modelo, mas que se afigura como uma espinha na garganta do candidato daquela coisa que eu não sei bem o que é. Ai vai o rol de pedidos feitos que receberam um não por parte do Sr. E agora contempla no seu programa.
1. Construção de variante à Boidobra;
2. Construção do Pavilhão Desportivo;
3. Construção do Relvado sintético, no Bairro da Alâmpada;
4. Requalificação dos arruamentos e iluminação pública no centro histórico;
5. Aquisição e reconversão de imóveis degradados no centro histórico;
6. Construção da Sede da Junta de Freguesia;
7. Alargamento da estrada de acesso ao CCD – Estrela do Zêzere;
8. Construção de passagem de nível desnivelada;
9. Construção do parque infantil da Quinta Branca.
O Programa inclui ainda mais quatro larachas de verbo político para não cumprir e que me abstenho de transcrever.
A isto digo: Sr. Carlos veja se tem vergonha na cara, pois é feio enganar as populações.
Terceiro e último papelucho desta vez com o nome de Jornal de candidatura. Retirei algumas passagens que me parecem interessantes começando desde logo pelo curriculum vitae do candidato que felizmente não se auto intitulou de Dr. ou Eng., mas que mesmo assim fez questão de dizer que é diplomado em qualquer coisa. Ignorou desde logo, talvez de propósito quem sabe, a sua passagem como deputado municipal nos anos idos de 1979, em que algumas vezes fora mandado calar pelos próprios pares de partido porque o homem nessa altura tinha enormes dificuldades em articular uma frase completa. Talvez por isso mesmo, hoje trate este órgão autárquico com o desdém, arrogância e prepotência que se conhece.
Nas páginas centrais afirma; “A Covilhã não é propriedade de nenhum partido político”. Tem toda a razão Sr. Carlos. Mas o Sr. engana a população covilhanense ao afirmar que se candidata pelo Partido da Covilhã, (última página do panfleto) quando na verdade, verdadinha, candidata-se pelo PSD, não se coibindo de criticar os outros candidatos, afirmando que estão reféns de partidos políticos.
Mais uma vez Sr. Carlos, tenha vergonha na cara.
A provar mais uma vez o que afirmo é o facto de na última página regozijar-se pelo facto do PSD apresentar listas às 31 freguesias do concelho da Covilhã. Mas é PSD ou Partido da Covilhã? No que ficamos afinal?
Mais uma vez Sr. Carlos, tenha vergonha na cara.
Uma última nota para dar conta que, e também na última página afirma que iniciou o porta a porta ao encontro dos Covilhanenses para com humildade pedir o seu voto. NÃO RESISTI E DEI UMA IMENSA GARGALHADA. Humildade????????
Mais uma vez Sr. Carlos, tenha vergonha na cara.
Nota: Não coloco fotos do candidato porque não quero ser conotado como seu apoiante. Chiça!
"ler aqui

quinta-feira, 17 de setembro de 2009


...werther... goethe...

"O coração dos apaixonados é assim: cavo, cavo, cavo. Mas a infeliz humanidade só sabe trabalhar, trabalhar, trabalhar. E, se arreganha umas horas livres, tudo faz para as ver passar rapidamente. Tristes homens que se deixam governar por bolos e rebuçados. Morte aos homens sensatos e moderados. Morte! Para cheirar a terra e sentir a água é preciso mais do que ser. É preciso amar os pássaros, as árvores e o fogo. A verdadeira pureza da natureza está sufocada pelas leis. É urgente aprender a cheirar o vento. E derrubar os diques que desviam as águas do seu curso natural. Quanto à terra: deve ser cavada com as unhas. Para a sentir mais perto de nós. Para sermos vida dentro dela. A água dos mares também deve passar pela nossa boca em grogolejos. As partículas de sal apegam-se à língua e aí permanecem até sabermos de cor o sabor das ondas. O vento tem de ser sentido com as palmas das mãos viradas para o alto. As fontes naturais, aquelas que escorrem pelas montanhas abaixo, têm de ser meditadas. E, de cada vez que olhamos para o chão, devemos olhar em seguida para o céu para sentir as nuvens. E abarcar o azul escondido. Só assim os corações dos apaixonados estarão preparados para reagir ao sabor dos tremores de mãos. E dos suores. E dos vendavais de sangue a estrebuchar nas faces enrubescidas. Os homens sensatos arranjam maneiras maquiavélicas de disfarçar os ardores do coração. Os loucos gozam dos prazeres sensuais das maças do rosto coradas e dos suores do corpo escondidos. Porque a poesia é dizer muito em poucas palavras. Encontrar o núcleo dos átomos e conseguir exprimi-lo. Deixar a paixão atingir a insanidade: é isto viver. A alma para ser sensível tem de abarcar com um único olhar todos os paraísos do mundo. Mas as gentes acomodaram-se a incomodarem-se mutuamente. Os homens são suficientemente invejosos para, infelizes, tentarem destruir a felicidade alheia. Se a felicidade exterior não for obra nossa, muito dificilmente a conseguimos encarar e suportar. Há ciúmes, há vontades perversas. As gentes querem o que os outros possuem. Mas, no fundo, é sempre com a melhor das intenções.
Werther é um jovem com coração arrebanhado por uma paixão intensa, tempestuosa e infortunada pela graciosa dama Carlota. Mas Carlota já tem o amor prometido a Alberto. Werther começa a sofrer terrivelmente. Porque quem sabe sentir o vento, a terra, o mar e o fogo, sente mil vezes mais os ardores de um amor não correspondido. Pobre Werther, com sensibilidade à flor das têmporas, terá um final trágico: mata-se. Brutalmente. Mata-se e pronto.
Diz-se que Werther é um romance autobiográfico: Goethe, na vida real, ter-se-ia enamorado pela mulher de um amigo. O romance está em forma de diário e é formado por um conjunto de cartas que Werther teria escrito ao seu irmão Guilherme e, em certas alturas, à própria Carlota, contando-lhe as etapas que um coração nobre leva até chegar ao êxtase derradeiro.
A publicação de Werther levou a que um número alarmante de adolescentes e jovens se suicidassem, utilizando o mesmo método usado pela personagem, vestindo as mesmas roupas e deixando um exemplar da obra no leito da morte. Estes suicídios em massa deixaram de tal forma a Europa arrasada que o livro chegou a ser retirado de circulação."

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

...noam chomsky: sobre anarquismo, marxismo e a esperança no futuro...

"Noam Chomsky é bastante conhecido pela sua crítica à política de negócios estrangeiros dos EUA, e pelo seu trabalho como linguista. Menos conhecido é o seu apoio aos objectivos socialistas libertários. Numa entrevista especial dada à "Red And Black Revolution", Chomsky dá os seus pontos de vista sobre anarquismo e marxismo, e as suas expectativas para o socialismo no tempo presente. A entrevista foi dirigida em Maio de 1995 por Kevin Doyle.
RBR: Noam, há já muito tempo que você tem sido um defensor da ideia anarquista. Muitas pessoas estão familiarizadas com a introdução que escreveu em 1970 ao "Anarquismo" de Daniel Guerin, mas, mais recentemente, por exemplo no filme "Manufacturing Consent", você aproveitou a oportunidade para chamar de novo a atenção para o potencial do anarquismo e da ideia anarquista. O que é que o atrai no anarquismo?
Chomsky: Fui atraído pelo anarquismo desde a adolescência, logo que comecei a pensar sobre o mundo para além das coisas pequeninas, e desde então não tive muitas razões para corrigir essas atitudes iniciais. Penso que só faz sentido investigar e identificar estruturas de autoridade, hierarquia e domínio, em todos os aspectos da vida, para depois as desafiar; a menos que nos seja dada uma justificação, elas são ilegítimas e deveriam ser desmanteladas, para aumentar a extensão da liberdade humana. Isto inclui o poder político, a propriedade e a administração, as relações entre homens e mulheres, pais e filhos, o nosso controlo sobre o destino das gerações futuras (o imperativo moral básico por trás do movimento para o meio ambiente, segundo penso), e muito mais. Naturalmente isto significa um desafio às enormes instituições de coerção e controlo: o estado, as inúmeras tiranias privadas que dominam a maior parte da economia nacional e internacional, etc.. E não apenas isto. Foi isso que sempre percebi como sendo a essência do anarquismo: a convicção de que o ónus da prova deve ser colocado à autoridade, e que ela deve ser desmantelada se não conseguir dar essa prova. Por vezes essa prova existe. Se eu for dar um passeio com os meus netos e eles se precipitarem para uma rua movimentada, eu usarei não só autoridade mas também a coerção física para os impedir. É um exemplo típico. E existem outros casos; a vida é uma coisa complexa, entendemos muito pouco sobre o ser humano e a sociedade, e grandes declarações são frequentemente uma maior fonte de sofrimento do que de benefícios. Mas a perspectiva é válida, penso, e pode levar-nos longe.
Para lá destas generalizações, nós começamos a olhar para os casos, e isto leva ao aparecimento das questões humanas do interesse e preocupação.
RBR: É uma verdade quando se diz que as suas ideias e crítica estão hoje mais divulgadas do que nunca. Também se diz que os seus pontos de vista são bastante respeitados. Como pensa que o seu apoio ao anarquismo é recebido neste contexto? Em particular, estou interessado na reacção que você recebe das pessoas que se estão a interessar pela política e que podem, talvez, cruzar-se com os seus pontos de vista. Essas pessoas ficam surpreendidas pelo seu apoio ao anarquismo? Ficam interessadas?
Chomsky: A generalidade da cultura intelectual, como sabe, associa "anarquismo" com caos, violência, bombas, descrédito, etc.. Por isso as pessoas ficam frequentemente surpreendidas quando falo positivamente acerca do anarquismo e identifico-me com as suas tradições mais importantes. Mas a minha impressão é que entre o público em geral, as ideias básicas parecem razoáveis quando as nuvens se afastam. Claro que, quando nos voltamos para matérias específicas -- digamos, a natureza das famílias, ou como uma economia funcionaria numa sociedade mais livre e justa -- as questões e a controvérsia surgem. Mas é natural que seja assim. A Física não consegue explicar determinados fenómenos, e qundo nos voltamos para as questões bem mais complexas de importância humana, a compreensão é muito ténue, há muito espaço para a discordância, experimentação, exploração de possibilidades tanto intelectual como na vida real, que nos ajudam a conhecer mais.
RBR: Talvez, mais do que qualquer outra ideia, o anarquismo sofreu de um problema de deturpação na apresentação. O anarquismo pode significar muitas coisas para muitas pessoas. Acontece-lhe frequentemente dar por si a ter de explicar o que significa anarquismo no seu entendimento? A deturpação na apresentação do anarquismo incomoda-o?
Chomsky: Toda a deturpação é um incómodo. Muita dela é originária das estruturas do poder que têm interesse em impedir a sua compreensão, por razões óbvias. Será bom recordar os "Principles of Government" de David Hume. Ele expressou surpresa pelas pessoas se submeterem sempre aos seus governadores. Ele concluiu então que "a força está sempre do lado dos governados, os governadores nada mais têm a suportá-los além da opinião. É só nisto, em minha opinião, que o governo está estabelecido; e este princípio aplica-se aos governos mais despóticos e militaristas, e igualmente aos mais livres e mais populares." Hume era muito astuto -- mas dificilmente se poderia considerar um libertário pelos padrões actuais. Ele subestimou certamente a eficácia da força, mas a sua observação está correcta na sua essência, e válida particularmente para as sociedades mais livres, onde a arte de controlar a opinião está por isso muito mais refinada. A deturpação e outras formas de confusão são naturalmente existentes.
Se a deturpação me incomoda? Claro, mas o mau tempo também me incomoda. Ela vai existir desde que as concentrações de poder engendrem uma espécie de comissários de classe para as defender. Como eles não são muito inteligentes, ou suficientemente inteligentes para saberem que era preferível evitar a arena do facto e argumento, eles voltam-se para a deturpação, a calúnia, e outros expedientes que estão disponíveis àqueles que sabem que terão a protecção dos vários meios à disposição dos poderosos. Nós devemos compreender porque acontece isto, e desmascará-lo o melhor que pudermos. Isso é parte do projecto de libertação -- nossa e dos outros, ou, mais razoavelmente, das pessoas que trabalham em conjunto para atingir estes objectivos.
Pode parecer simples, e é. Mas ainda estou para encontrar muitos comentários à vida humana e à sociedade que não sejam simples, quando o absurdo e interesse pessoal são afastados.
RBR: E o que se passa em círculos mais estabelecidos de esquerda, onde é de esperar uma maior familiaridade com aquilo que o anarquismo defende? Encontra alguma surpresa aí, pelas suas posições e apoio ao anarquismo?
Chomsky: Se com "círculos mais estabelecidos de esquerda" quer dizer aquilo que eu penso, não existe muita surpresa pelos meus pontos de vista sobre o anarquismo, porque muito pouco é conhecido pelos meus pontos de vista sobre qualquer coisa. Eu não tenho contactos com esses círculos. Raramente encontrará uma referência a algo que eu tenha dito ou escrito. Isto não é completamente verdade, claro. Por conseguinte nos EUA (e menos frequentemente no Reino Unido ou noutros países), encontrará alguma familiaridade com aquilo que faço em alguns dos sectores mais críticos e independentes daquilo que pode ser chamado como os "círculos mais estabelecidos de esquerda," e tenho amigos pessoais e associados espalhados por aqui e ali. Mas, dê uma vista de olhos pelos livros e pelos jornais e verá o que eu quero dizer. Não espero que aquilo que escrevo e digo seja melhor acolhido nesses círculos que no clube da faculdade, ou na redacção do jornal -- uma vez mais, com excepções.
A questão levanta-se apenas marginalmente, há tanto para dizer que é difícil de responder.
RBR: Algumas pessoas repararam que você usa o termo "socialista libertário" no mesmo contexto que usa a palavra "anarquismo". Vê esses termos como essencialmente similares? O anarquismo é para si um tipo de socialismo? A descrição já foi usada anteriormente "anarquismo é equivalente ao socialismo com liberdade". Concorda com esta equação básica?
Chomsky: A introdução ao livro de Guerin que você mencionou começa com uma citação de um simpatizante anarquista de há um século atrás, e diz que "o anarquismo tem costas largas," e "aguenta tudo." Um dos elementos principais tem sido o que é tradicionalmente designado como "socialismo libertário". Tenho tentado explicar aqui e noutros lugares o que quero dizer com isso, sublinhando que não é propriamente um conceito original. Eu pego em ideias das principais figuras do movimento anarquista, os quais eu cito e que, de forma bastante consistente, se descrevem a si próprios como socialistas, ao mesmo tempo que condenam severamente a "nova classe" de intelectuais radicais que tentam obter poder estatal no decurso da luta popular e se tornam na perversa "Burocracia Vermelha" de que Bakunine advertia; o que é frequentemente designado de "socialismo". Eu concordo mais com Rudolf Rocker na percepção de que estas tendências (bastante centrais) do anarquismo derivam antes do melhor do Iluminismo e do pensamento liberal clássico, bem para lá do que ele descreveu. De facto, à medida que eu tenho tentado mostrar o seu contraste nítido com a doutrina e a prática Marxista-Leninista, as doutrinas "libertárias" que estão particularmente em voga nos EUA e no Reino Unido, e outras ideologias contemporâneas, elas perecem-me reduzir-se a advogar uma ou outra forma de autoridade ilegítima, bastante frequentemente uma verdadeira tirania.

A Revolução Espanhola
RBR: No passado, quando tem falado sobre anarquismo, você tem enfatizado frequentemente o exemplo da Revolução Espanhola. Para si aí teriam existido os dois aspectos deste exemplo. Por um lado, a experiência da Revolução Espanhola é, como diz, um bom exemplo do "anarquismo em acção". Por outro, você também sublinhou que a Revolução Espanhola é um bom exemplo do que os trabalhadores podem alcançar pelo seu próprio esforço usando a democracia participativa. Estes dois aspectos -- anarquismo em acção e democracia participativa -- são uma e a mesma coisa para si? O anarquismo é uma filosofia para o poder do povo?
Chomsky: Sinto-me relutante em usar polissílabos extravagantes como "filosofia" para referir o que parece ser simples senso comum. E também me sinto desconfortável com slogans. As conquistas dos trabalhadores e camponeses espanhóis, antes da revolução ser esmagada, foram impressionantes sob muitos aspectos. O termo "democracia participativa" é mais recente, e desenvolveu-se num contexto diferente, mas há seguramente pontos de semelhança. Peço desculpa se isto parece evasivo. É, mas isso é porque eu não penso que tanto o conceito de anarquismo ou o de democracia participativa sejam suficientemente claros para responder à questão de eles serem ou não o mesmo.
RBR: Uma das principais conquistas da Revolução Espanhola foi a forma como a democracia se estableceu. Em termos de pessoas, estimou-se que mais de 3 milhões estiveram envolvidas. A produção rural e urbana foi gerida pelos próprios trabalhadores. Acha uma coincidência que os anarquistas, conhecidos por advogarem a liberdade individual, tenham tido sucesso nesta área de administração colectiva?
Chomsky: Não foi nenhuma coincidência. As tendências que sempre me atraíram mais no anarquismo procuram uma sociedade altamente organizada, integrando muitos tipos de diferentes estruturas (local de trabalho, comunidade, e outras variadas formas de associação voluntária), mas controladas pelos participantes, não por aqueles que estão numa posição de dar ordens (excepto, uma vez mais, quando a autoridade possa ser justificada, como é por vezes o caso, em contingências específicas).

Democracia
RBR: Os anarquistas despendem muitas vezes um grande esforço na construção das raízes da democracia. De facto são frequentemente acusados de "levar a democracia a extremos". E no entanto, apesar disto, muitos anarquistas não identificariam prontamente a democracia como um componente central da filosofia anarquista. Os anarquistas descrevem amiúde a sua política como sendo sobre "socialismo" ou sobre "o indivíduo" -- dificilmente dirão que anarquismo é sobre democracia. Você concorda que as ideias democráticas são uma característica central do anarquismo?
Chomsky: A crítica à "democracia" entre os anarquistas tem sido frequentemente a crítica à democracia parlamentar, porque ela surgiu em sociedades com características profundamente repressivas. Tomemos os EUA por exemplo, que foram livres desde as suas origens. A democracia americana foi fundada no princípio, sublinhado por James Madison na Convenção Constitucional de 1787, de que a primeira função do governo é "proteger a minoria opulenta da maioria." Deste modo ele argumentava que na Inglaterra, o único modelo quase-democrático da época, se fosse dada palavra à população em geral, nos destinos públicos, ela implementaria uma reforma agrária ou outras atrocidades, e que o sistema americano devia ser cuidadosamente concebido para evitar tais crimes contra "os direitos da propriedade," os quais devem ser defendidos (de facto, devem prevalecer). A democracia parlamentar dentro deste quadro merece uma crítica aguda pelos libertários genuínos, e deixei de fora muitas outras características que dificilmente se consideram subtis -- a escravatura, para mencionar apenas uma, ou as escravatura do salário que foi amargamente condenada por gente trabalhadora que nunca ouviu falar de anarquismo ou comunismo durante o século XIX, e para além deste.

Leninismo
RBR: A importância das raízes da democracia para qualquer mudança significativa na sociedade, pareceriam evidentes. No entanto a esquerda tem sido ambígua sobre isto no passado. Falo em termos gerais, da social-democracia, mas também do bolchevismo -- tradições na esquerda que parecem ter mais em comum com o pensamento elitista do que com a estrita prática democrática. Lenine, para usar um exemplo bem conhecido, era céptico quanto aos trabalhadores poderem desenvolver algo mais do que uma "consciência sindicalista" -- pela qual, penso, ele queria dizer que os trabalhadores não conseguiam ver além da sua situação imediata. Similarmente, a socialista fabiana Beatrice Webb, que era muito influente no Partido Trabalhista britânico, achava que os trabalhadores apenas se interessavam por "apostas de cavalos"! Onde se originou este elitismo e o que é que ele faz à esquerda?
Chomsky: Receio ter dificuldade em responder a isso. Se por esquerda é suposto incluir o "bolchevismo", então eu dissocio-me terminantemente da esquerda. Lenine foi um dos maiores inimigos do socialismo, na minha opinião, pelas razões que temos discutido. A ideia de que os trabalhadores apenas se interessam por corridas de cavalos é um absurdo que não resiste mesmo a um olhar superficial pela história trabalhista ou pela imprensa operária, activa e independente, que floresceu em muitos lugares, incluindo as cidades industriais da Nova Inglaterra, não muito longe de onde estou a escrever -- para nem falar nos registos inspiradores das lutas corajosas de pessoas oprimidas e perseguidas através da História, até este preciso momento. Tome por exemplo o canto mais miserável deste hemisfério, o Haiti, olhado pelos conquistadores europeus como um paraíso e fonte de uma parte considerável da riqueza europeia, agora devastado, talvez para além da recuperabilidade. Nos últimos anos, em condições tão miseráveis que poucas pessoas em países ricos as conseguem imaginar, camponeses e habitantes dos bairros de lata construiram um movimento popular democrático baseado em organizações de raíz que ultrapassam quase tudo o que conheço noutros lugares; só comissários profundamente empenhados poderiam aguentar o riso do ridículo quando ouvem as solenes declarações dos intelectuais e dos líderes políticos americanos, sobre como os EUA têm de ensinar aos haitianos as lições de democracia. As suas realizações foram tão substanciais e assustadoras para os poderosos, que eles tiveram de ser sujeitos a mais uma dose de terror traiçoeiro, com um maior apoio americano do que aquele que é publicamente reconhecido, e mesmo assim ainda não se renderam. Estarão eles apenas interessados em corridas de cavalos?
Eu sugeriria algumas linhas que por vezes cito de Rosseau: "quando vejo multidões de selvagens inteiramente despidos desprezar a voluptuosidade europeia e sofrer a fome, o fogo, a espada e a morte para preservar apenas a sua independência, sinto que não compete aos escravos debater sobre liberdade."

RBR: Falando novamente de um modo geral, o seu próprio trabalho -- Desencorajando a Democracia, Ilusões Necessárias, etc., -- tem lidado consistentemente com o papel e a prevalência de ideias elitistas em sociedades como a nossa. Você tem argumentado que no interior da democracia "ocidental" (ou parlamentar) existe um profundo antagonismo a qualquer desempenho real ou contribuição das massas populares, mal exista uma ameaça à distribuição desigual da riqueza, que favorece os ricos. O seu trabalho é bastante convincente neste ponto, mas, além disso, alguns têm ficado chocados pelas suas asserções. Por exemplo, você compara a política do presidente John F. Kennedy com Lenine, pondo-os mais ou menos lado a lado. Isto, devo acrescentar, chocou apoiantes de ambos os campos! Pode pormenorizar um pouco sobre a validade desta comparação?
Chomsky: Eu de facto não "comparei" as doutrinas dos intelectuais liberais da administração de Kennedy com os leninistas, mas notei surpreendentes pontos de similaridade -- tal como previsto por Bakunine um século antes no seu comentário discernente sobre a "nova classe." Por exemplo, citei passagens de McNamara sobre a necessidade de aperfeiçoar o controlo administrativo se formos verdadeiramente "livres," e sobre como a "subadministração" que é "a verdadeira ameaça à democracia" é um assalto contra a própria razão. Altere algumas poucas palavras nestas passagens, e temos a típica doutrina leninista. Eu argumentei que as raízes são bem mais profundas, em ambos os casos. Sem uma melhor clarificação acerca do que as pessoas consideram "chocante", não posso fazer mais comentários. As comparações são específicas, e penso que ambas são apropriadas e devidamente qualificadas. Caso contrário é um erro, e eu estaria interessado em ser elucidado sobre ele.

Marxismo
RBR: Especificamente, leninismo refere-se a uma forma de marxismo que se desenvolveu com V.I. Lenine. Você está a distinguir implicitamente os trabalhos de Marx da crítica que faz a Lenine quando usa o termo "leninismo"? Vê uma continuidade entre os pontos de vista de Marx e as práticas posteriores de Lenine?
Chomsky: Os avisos de Bakunine sobre a "Burocracia Vermelha" que instituiria "o pior de todos os governos despóticos" foram feitos muito antes de Lenine, e eram dirigidos contra os seguidores do Sr. Marx. Existiam, de facto, seguidores de muitos tipos diferentes: Pannekoek, Luxembourg, Mattick e outros estão muito distantes de Lenine, e as suas posições convergem frequentemente com elementos do anarco-sindicalismo. Korsch e outros escreveram por simpatia da revolução em Espanha, de facto. Existem continuidades de Marx a Lenine, mas também existem continuidades até aos marxistas que eram severos críticos de Lenine e do bolchevismo. O trabalho de Teodor Shanin nos últimos anos sobre as atitudes tardias de Marx em relação à revolução camponesa também é relevante aqui. Eu não sou propriamente um estudioso de Marx, e não arriscaria nenhum julgamento sério sobre qual destas continuidades reflecte o "verdadeiro Marx", mesmo que exista uma resposta a essa questão.
RBR: Recentemente, obtivemos uma cópia das suas "Notas sobre Anarquismo" (reeditado o ano passado pelo Discussion Bulletin nos EUA). Nele você menciona os pontos de vista do "Marx inicial", em particular o seu desenvolvimento da ideia de alienação sob o capitalismo. Você concorda de um modo geral com esta divisão na vida e no trabalho de Marx -- um jovem e mais libertário socialista mas, nos últimos anos, um autoritário firme?
Chomsky: O Marx inicial aproxima-se consideravelmente do meio em que viveu, e encontram-se muitas semelhanças com o pensamento que animou o liberalismo clássico, aspectos do Iluminismo, e do Romantismo francês e germânico. Uma vez mais, não sou um grande estudioso de Marx para pretender dar um julgamento de opinião autorizada. A minha impressão, sem qualquer garantia, é que o Marx inicial era uma figura do Iluminismo tardio, e o Marx posterior era um activista altamente autoritário, e um analista crítico do capitalismo, que tinha pouco a dizer sobre alternativas socialistas. Mas isto são impressões.
RBR: Segundo o meu entendimento, o núcleo do seu pensamento global foi transmitido pelo seu conceito de natureza humana. No passado a ideia de natureza humana era vista, talvez, como algo regressivo, mesmo limitador. Por exemplo o imutável aspecto da natureza humana é muitas vezes usado como um argumento pelo qual as coisas não podem ser fundamentalmente mudadas na direcção do anarquismo. Você tem uma posição diferente? Porquê?
Chomsky: O núcleo do pensamento de quem quer que seja é um conceito de natureza humana, por muito distante que esteja da consciência ou lhe falte articulação. Pelo menos, isto é verdade para pessoas que se consideram agentes morais, e não monstros. Excluindo os monstros, quer uma pessoa advogue reforma ou revolução, ou estabilidade, ou o regresso a patamares anteriores, ou simplesmente a cultivar o seu próprio jardim, parte dos princípios do que é "bom para as pessoas." Mas esse julgamento é baseado em alguma concepção da natureza humana, que uma pessoa razoável tentará fazer com que seja tão claro quanto possível, porque só assim poderá ser avaliado. Por isso neste aspecto não sou diferente dos outros.
Você tem razão, a natureza humana tem sido olhada como algo "regressivo," mas isso deve ser o resultado de profunda confusão. A minha neta não é diferente de uma rocha, uma salamandra, uma galinha, de um macaco? Uma pessoa que rejeita este absurdo como tal, reconhece que existe uma natureza humana identificativa. Apenas somos deixados com a questão sobre o que ela é -- uma questão nada trivial e altamente fascinante, com um enorme interesse científico e significado humano. Conhecemos um bom bocado sobre certos aspectos dela -- não aqueles de maior ênfase humano. Para além disso, ficamos com as nossas esperanças e desejos, intuições e especulações.
Não há nada de "regressivo" no facto de um embrião humano estar tão limitado que não lhe cresçam asas, ou que o seu sistema visual não funcione como o dos insectos, ou que lhe falte o instinto de orientação dos pombos. Os mesmos factores que limitam o desenvolvimento do organismo, também lhe permitem obter uma estrutura rica, complexa e altamente articulada, similar nos modos fundamentais aos outros da sua espécie, com capacidades valiosas e notáveis. Um organismo ao qual faltasse esta estrutura intrínseca e determinante, que obviamente limita as vias de desenvolvimento, seria uma espécie de criatura amiboide, para ser lamentada (se conseguisse sobreviver). O alcance e os limites do desenvolvimento estão logicamente relacionados.
A linguagem, por exemplo, uma das poucas capacidades humanas distintivas sobre a qual se conhece muito. Temos fortes razões para acreditar que todas as linguagens humanas possíveis são muito semelhantes; um cientista marciano observando humanos poderia concluir que existe apenas uma única linguagem, com variantes menores. A razão para isto é que o aspecto particular da natureza humana que está por trás do desenvolvimento da linguagem permite opções muito restritas. Isto é limitativo? Claro que sim. Isto é libertador? Claro que sim, também. São estas mesmas restrições que tornam possível um sistema de expressão de pensamento intrincado e rico, pensado para se desenvolver em modos semelhantes com base em experiências muito variadas, rudimentares e difusas.
E quanto à questão das diferenças humanas biologicamente determinadas? Que elas existem é uma verdade, e são um motivo de alegria, e não de medo ou mágoa. Uma vida entre clones não teria qualquer valor, e uma pessoa sensata apenas se alegrará pelas capacidades que os outros possuem e não partilham. Isto devia ser elementar. O que se pensa normalmente sobre estes assuntos é deveras estranho, em minha opinião.
A natureza humana, qualquer que ela seja, conduzirá ao desenvolvimento de modos de vida anarquistas ou será uma barreira para eles? Não sabemos o suficiente para responder, num ou noutro sentido. Isto são matérias para experimentação e descoberta, não para declarações vazias.
O futuro
RBR: Estamos a chegar ao fim, e gostava de lhe pôr algumas questões breves sobre alguns dos temas que se colocam presentemente à esquerda. Não sei se a situação é parecida nos EUA mas aqui, com a queda da União Soviética, uma certa desmoralização instalou-se na esquerda. Não que as pessoas fossem grandes apoiantes do que existias na União Soviética, mas antes um sentimento geral que com o desmembramento da União Soviética a ideia de socialismo também foi arrastada na queda. Já se cruzou com este tipo de desmoralização? Qual a sua resposta perante ela?
Chomsky: A minha reacção ao fim da tirania soviética foi semelhante à minha reacção à derrota de Hitler e Mussolini. Em qualquer dos casos foi uma vitória do espírito humano. Devia ter sido particularmente festejada pelos socialistas, uma vez que um grande inimigo do socialismo tinha por fim caído. Tal como você, fiquei admirado ao ver como as pessoas -- incluindo gente que se tinha considerado anti-estalinista e anti-leninista -- estavam desmoralizadas pelo colapso da tirania. O que revela que elas estavam mais profundamente comprometidas com o leninismo do que acreditavam.
Existem, contudo, outras razões a considerar acerca da eliminação deste sistema brutal e tirânico que tinha tanto de "socialista" como de "democrático" (lembre-se que ele se reclamava de ambos, e a última pretensão era ridicularizada no Ocidente, enquanto a primeira era ansiosamente aceite, como uma arma contra o socialismo -- um dos muitos exemplos do serviço prestado pelos intelectuais do ocidente ao poder). Uma das razões tem a ver com a natureza da Guerra Fria. Do meu ponto de vista, devia-se de modo considerável ao caso especial do "conflito Norte-Sul," para usar um eufemismo que descreve a conquista europeia da maior parte do mundo. A Europa Oriental tinha sido o "terceiro mundo" original, e a Guerra Fria desde 1917 não tinha a mais ligeira semelhança com a reacção às tentativas de seguir um percurso independente por parte de outras partes do terceiro mundo, embora neste caso as diferenças de escala deram ao conflito uma vida própria. Por esta razão, era apenas razoável esperar que a região voltasse ao seu estatuto anterior: para partes do Ocidente, como a República Checa ou a Polónia Ocidental, existia a expectativa que se voltassem a juntar-lhe, enquanto outras reverteriam ao tradicional papel de serviço, com a ex-Nomenklatura a tornar-se na habitual elite terceiro-mundista (com a aprovação do poder corporativo-estatal do Ocidente, que normalmente os prefere às alternativas). Isto não era uma perspectiva agradável e levou a muito sofrimento.
Outro motivo de preocupação tem a ver com a intimidação e o não-alinhamento. Apesar de grotesco, o império soviético pela sua existência oferecia um certo espaço para o não-alinhamento e, por razões absolutamente cínicas, por vezes oferecia assistência às vítimas dos ataques ocidentais. Essas opções acabaram, e o Sul sofre agora as consequências.
Uma terceira razão tem a ver com aquilo a que a imprensa de economia denomina de "trabalhadores ocidentais mal-habituados" com o seu "estilo de vida luxuoso." Com a maior parte da Europa Oriental a voltar ao rebanho, o patronato e os gestores têm armas novas e poderosas contra as classes trabalhadoras e os pobres do seu próprio país. A GM e a VW podem não só transferir a sua produção para o México ou para o Brasil (ou pelo menos ameaçar fazê-lo, o que geralmente vai dar no mesmo), mas também para a Polónia e Hungria, onde podem encontrar trabalhadores experientes e qualificados por uma fracção do custo. E estão a regozijar-se com isso, compreensivelmente, dados os valores vigentes.
Podemos aprender muito sobre o que significou a Guerra Fria (ou qualquer outro conflito) ao procurar quem lucrou ou quem ficou prejudicado depois de ela acabar. Por esse critério, nos vencedores da Guerra Fria incluem-se as elites ocidentais e a ex-Nomenklatura, agora mais ricos do que alguma vez sonharam, e nos derrotados inclui-se uma parte substancial da população do Leste lado a lado com os trabalhadores e os pobres do Ocidente, bem como sectores populares do Sul que procuraram seguir um caminho independente.
Estas ideias tendem a levar os intelectuais ocidentais quase à histeria, isto quando eles as entendem, o que é raro. É fácil de demonstrar. É igualmente compreensível. As observações estão correctas, e são subversivas para o poder e para os privilégios; daí a histeria.
De um modo geral, as reacções de uma pessoa honesta ao fim da Guerra Fria serão mais complexas do que o simples prazer pelo colapso de uma tirania brutal, e as reacções que prevalecem estão impregnadas com uma hipocrisia extrema, na minha opinião.

Capitalismo
RBR: Em muitos aspectos a esquerda de hoje encontra-se de regresso ao seu ponto de partida no final do século XIX. Tal como então, enfrenta agora uma forma de capitalismo que está em ascensão. Parece mesmo existir um maior "consenso" hoje, mais do que em qualquer outra altura da História, que o capitalismo é a única forma válida e possível de organização económica, apesar das desigualdades estarem a aumentar. Sobre este cenário, pode-se argumentar que a esquerda não está segura sobre como avançar para o futuro. Como é que vê este período actual? Será uma questão de "regressar aos princípios"? O esforço deverá concentrar-se hoje em fazer vir ao de cima a tradição libertária do socialismo para sublinhar as ideias democráticas?
Chomsky: A maior parte disto é propaganda, na minha opinião. O que é designado de "capitalismo" é basicamente um sistema de mercantilismo corporativo, com enormes tiranias privadas sem rosto, que exercem um vasto controlo sobre a economia, os sistemas políticos, a vida cultural e social, operando em estreita colaboração com os estados poderosos, que interferem maciçamente na economia nacional e na sociedade internacional. Isto é verdade também nos EUA, apesar da ilusão de parecer o contrário. Os ricos e os privilegiados não estão dispostos a enfrentar a disciplina do mercado mais do que estavam no passado, embora a considerem boa para a população em geral. Só para citar alguns exemplos ilustrativos, a administração Reagan, que alardeava a retórica do mercado livre, também se vangloriava na comunidade empresarial de ser a mais proteccionista da História norte-americana do pós-guerra -- de facto, mais ainda do que todas as outras juntas. Newt Gingrich, que lidera a cruzada actual, representa um distrito super-rico que recebe mais subsídios federais do que qualquer outra região suburbana do país, fora do próprio sistema federal. Os "conservadores" que, defendem o fim das cantinas escolares para as crianças carenciadas, pedem também o aumento do orçamento do Pentágono, que foi estabelecido nos finais dos 1940s na sua forma actual porque -- como a imprensa económica nos informa gentilmente -- a indústria de alta tecnologia não consegue sobreviver numa "economia de livre iniciativa pura, competitiva e não subsidiada" e o governo deve ser o seu "salvador." Sem o "salvador," os eleitores de Gingrich seriam pobre gente trabalhadora (se tivessem sorte). Não existiriam computadores, electrónicas, indústria aeronáutica, metalurgia, automatização, etc., etc., pela lista abaixo. Entre todas as pessoas, pelo menos os anarquistas não se deviam deixar levar por estas fraudes tradicionais.
Mais do que nunca, as ideias socialistas libertárias são relevantes, e a população está muito aberta a elas. Apesar de uma enorme quantidade de propaganda corporativa, fora dos círculos mais instruídos, as pessoas ainda mantêm muitas das suas atitudes tradicionais. Nos EUA, por exemplo, mais de 80% da população vê o sistema económico como "inerentemente injusto" e o sistema político como uma fraude, que apenas serve os "interesses especiais," e não "o povo." Maiorias esmagadoras consideram que as pessoas têm muito pouca voz nos assuntos públicos (e o mesmo se passa em Inglaterra), que o governo tem a responsabilidade de assistir às pessoas em dificuldades, que a despesa em educação e saúde deveria ter prioridade sobre os cortes nos orçamentos ou nos impostos, que as actuais propostas Republicanas no Congresso benificiam os ricos e prejudicam a população em geral, e assim sucessivamente. Os intelectuais podem contar uma história diferente, mas não é muito difícil descobrir os factos.
RBR: Até certo ponto as ideias anarquistas foram demonstradas pelo colapso da União Soviética -- as previsões de Bakunine provaram estar correctas. Acha que os anarquistas devem tomar a peito estes desenvolvimentos gerais e a perceptibilidade da análise de Bakunine? Devem os anarquistas olhar para o futuro próximo com maior confiança nas suas ideias e na sua história?
Chomsky: Eu penso -- pelo menos espero -- que a resposta esteja implícita no que foi dito acima. Penso que a era actual tem maus presságios omniosos, e sinais de grande esperança. O que se seguirá depende do que fizermos com as oportunidades." ler aqui

...o emplastro...

...cada vez que o coordenador do bloco de esquerda, francisco louça, aparece na tv, sempre à espreita e na rectaguarda, o seu fiel assessor , o pedro sales... qual guarda costas, no autocarro durante a reportagem da sic... qual bombeiro de serviço, segredando o que o chefe deve dizer, quando tem de comentar um debate que nem sequer viu... qual chefe de banda, que marca o ritmo do aplausos dos acólitos ... enfim... rapaz para todo o serviço:)...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

... chile, 11 de setembro...

"Quando lembramos dessa data, pensamos logo nos atentados ocorridos nos Estados Unidos em 2001, em especial nas torres gêmeas do World Trade Center em Nova York. Mas muitos anos antes, também em um 11 de setembro, acontecia um dos episódios mais sangrentos da história da América Latina. Em 1970, a população do Chile havia escolhido o médico Salvador Allende(na foto ao lado) como seu novo presidente. Allende era o representante da Unidade Popular, uma aliança de socialistas, comunistas e cristãos de esquerda. Ele foi o primeiro presidente marxista eleito democraticamente em um país latino-americano.
Seu governo iniciou uma reforma agrária, nacionalizou diversos bancos estrangeiros e introduziu programas de natureza social, como alfabetização, melhoria no sistema de saúde pública e na área de saneamento básico.Como conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desestabilização promovida pelos Estados Unidos (temendo um avanço do comunismo na região), que financiaram manifestações e a criação de grupos de oposição ao governo. Apoiados pela CIA, militares chilenos atacaram o palácio presidencial de La Moneda, em Santiago, no dia 11 de Setembro de 1973. Ao que tudo indica, Salvador Allende, cercado pelas tropas do Exército, teria se suicidado em La Moneda no mesmo dia, utilizando uma arma que havia recebido de presente anos antes do amigo Fidel Castro.O poder passa então ao general Augusto Pinochet, que logo dissolve os partidos políticos e implanta uma brutal ditadura que fez milhares de mortos. O Estádio Nacional de Santiago, utilizado para partidas de futebol, foi usado como campo de concentração, onde muitos opositores do regime foram torturados até a morte.Pinochet governou até o ano de 1989, e morreu no dia 10 de Dezembro de 2006, aos 91 anos. Dia 10 de dezembro, curiosamente, conhecido por ser o Dia Internacional dos Direitos Humanos." ler aqui

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

...I wish you could swim like the dolphins...

...cerveira... caderno de viagens

ana monteiro

...salamanca... caderno de viagens...


ana monteiro

...julio pomar...palácio anjos - algés...

...sigur rós...með suð í eyrum við spilum endalaust...

Sigur Rós - Gobbledigook from sigur-ros.co.uk on Vimeo.

...outras paisagens...

"Devia o momento de festança eleitoral servir, entre outras coisas, para uma profunda reflexão, acerca do modelo de cidade que está a ser adoptado no condominio. Este exemplo da Igreja da Estação, que vai ser inaugurada brevemente, espelha bem o destrambelho histórico/construtivo, e non sense a que tem sido sujeito o espaço público da Covilhã; cuja tendência natural e totalitária para o mau gosto, tem sido omnipresente e não há volta a dar-lhe.
Claro que o bom-gosto é uma categoria normalizadora burguesa, (sempre discutivel), mas é impossível ficar indiferente ante a barbárie estética desta e d’outras zonas do condominio.
Atente-se na composição da paisagem urbana entre a Estação e os galinheiros da ANIL, onde o contrastante não é meramente acidental, faz parte de uma cultura de ignorância com origem em Lopes Teixeira, passando por Álvaro Ramos até aos nossos dias.
Todos, sem excepção, foram incapazes de delinear estratégias para a cidade e tiveram no casuismo a única forma de acção, através da dispersão construtiva, confronto de escalas e subalternização do espaço público, que tornaram a Covilhã (cidade de montanha), disforme e agressiva. Não faltam exemplos de espaços com identidade própria, evocativos de percursos simbólicos na história da cidade neve, transformados em locais incaracterísticos.
Sendo certo também que uma política urbana, sistemática e bem articulada, nunca esteve nas prioridades ou na agenda da actual Administração do condominio. O desenho urbano continua, ainda hoje, subordinado ao gosto pessoal de certas luminárias que partilham a crença na construção à bolina como motor de desenvolvimento.
A politica urbana tem-se revelado um autêntico falhanço e um alfobre de disparates, de que é exemplo um parque habitacional tão fragmentado quão degradado no indigente “centro histórico”, falho em sucessivos planos de reabilitação, onde foram enxertados pedaços de cidade que nunca chegarão a sê-lo, e ficarão tão só como monumentos à estupidez e ao desperdício."