Num momento de profunda alteração dos cenários com que a indústria musical se habituou a contar, da qual a vertiginosa queda das vendas de discos é talvez a consequência mais visível, florescem, no entanto, as editoras independentes, ou para sermos mais correctos, as micro-editoras. Contraditório? Nem por isso: os independentes sempre trabalharam com mercados reduzidos, de certo modo nichos de melómanos, e especializaram-se na diversidade, no tipo de música que por não terem ou ainda não terem um grande público não despertam o interesse comercial das majors. Assim, a crise das vendas não as afectaram, ou afectaram-nas pouco, porque o seu público-alvo é um público que gosta do disco objecto, porque souberam adaptar os preços dos discos ao reduzido poder de compra das pessoas, porque as suas estruturas empresariais são, por natureza e necessidade, ligeiras e flexíveis – portanto com custos reduzidos e com capacidade de decisão e de adaptação imediata –, porque viram na net e no download gratuito, contrariamente ao horror alardeado pela indústria middle of the road, uma rara oportunidade para ultrapassar a sua maior fraqueza, que é a capacidade de promoção, e um óptimo e barato instrumento para chegar a outros mercados e a um público mais vasto… Não dá para alimentar a voragem de lucro dos accionistas das multinacionais, mas dá para sustentar o gosto em fazer edições cuidadas de músicas que, de outra forma, não ficariam certamente registadas nem acessíveis ao público, com toda a pobreza estética que isso significaria – e só por curiosidade, mas não por acaso, repare-se nos habituais balanços de final do ano a que os media se entregam para eleger os melhores discos e onde os lugares cimeiros têm sido ocupados maioritariamente, desde o princípio do século, por edições independentes... E assim continuará enquanto continuar o desinvestimento acentuado das multinacionais em todos os segmentos que não garantam o crossover comercial evidente, porque isso abre mais nichos para serem trabalhados por micro-editoras e possibilita que mais independentes entrem no mercado." Adolfo luxúria Canibal aqui
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1 comentário:
Interessante.
As outras queixam-se de descidas, apesar de eu pensar que é apenas ficar onde deviam de sempre ter estado, isso sabia mas não sabia que as independentes estão de boa saúde. Viva as independentes!
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