quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Lançamentos fluviais


10.01.2008, Nuno Pacheco (No Público)
"No passado fim-de-semana, ao folhear os semanários, saltava à vista este título lapidar, mesmo na capa do Expresso: "PSD: Aguiar Branco lança Rui Rio". OK, mas de que ponte?, perguntaria o leitor mais incauto, sem perceber muito bem do que se tratava. Equívocos do verbo lançar, evidentemente. Vai-se aos livros e lá está, bem explícito, que lançar significa arremessar com força, atirar, arrojar, deitar, expelir, vomitar, apontar, dirigir, inscrever, fazer nascer, produzir, expelir, exalar, espalhar, derramar, atribuir, pôr em voga, fazer constar, indagar. Ou atirar-se, precipitar-se, avançar. Nada que se aplique de imediato ao presidente em exercício da Câmara do Porto, embora por mais do que uma vez ele se tenha precipitado em decisões menos abonatórias, se tenha atirado contra jornalistas e tenha avançado com medidas que lhe valeram fortes críticas. Mas daí a lançarem-no, como dantes se fazia nos circos aos homens-bala, vai enorme distância. Sucede que o título, bem como o texto que lhe está associado, se refere à hipótese de Rio vir a ser alternativa a Menezes na liderança do PSD. Quem a coloca, entre outros? Aguiar Branco, um homem que Rio convenceu um dia a não se candidatar contra Marques Mendes porque isso podia dar a vitória a Menezes.
Ora, Aguiar não se candidatou, mas Menezes ganhou. E a tese de Rio desaguou no oceano dos falhanços. Eis que agora, depois de temporário amuo, Aguiar anuncia: "Estamos a guiar o mesmo carro e dificilmente não será assim". Lá voltará o leitor incauto, desta vez zangado: como a guiar o mesmo carro? Então agora já há carros com dois volantes? Nada disso. E também não é metáfora. Aguiar e Rio estiveram ao volante do mesmo carro, sim, porque o primeiro convidou o segundo para parceiro numa corrida de automóveis em Braga, a 8 de Dezembro. E lá posaram, devidamente enfarpelados, para a fotografia (também no Expresso).

Pois bem: entre carros e pontes, a verdade é que há já quem procure engrossar o caudal de Rio para que ele desagúe devidamente num lugar que Menezes ainda mal aqueceu. Mais: até há quem lhe envie mensagens, e-mails, a sugerir que ele venha a ser o futuro ministro de Portugal, coisa que ele naturalmente muito agradece (os mails, claro), mas ainda não comenta. Já houve almoço, como convém nestas coisas, e já se vislumbra, nos horizontes de um mirífico poder, como sucessor do "barrosismo", do "mendismo" e do "menezismo", o "riismo". Pode não ser fácil de concretizar, e menos ainda de pronunciar, mas é o que há, nestas andanças. Rio está "consciente das suas responsabilidades e não as descartará", afiança, ainda ao Expresso, um ex-apoiante de Marques Mendes. A coisa parece séria. Mas como um lançamento nunca vem só, eis que o próprio Rio admite recandidatar-se a um terceiro mandato camarário. Porquê? Porque, diz ele, "não há duas sem três". Fatal. Talvez alguém se lembre de ressuscitar, a propósito de tais lançamentos, a velha canção festivaleira de Sérgio Borges: "Onde vais rio que eu canto/ nova luz já se alumia." Preparados?"

Sem comentários: