- reclamo para mim a inocuidade da minha traição, não consta dos acontecimentos trágicos, mas do revelado fetichismo da vida quotidiana.
- traição e inocuidade? inimigos irreconciliáveis nos dogmas petrificados da vida quotidiana. pagaste o serviço?
- tal atitude não se me revelou explicitamente importante.
- mas é claro que evidencia toda a importância, porque a procuraste?
- pelo amor incondicional que te tenho! pelo amor que me dizes ter. não posso dispensar esse amor. e tu? porque só agora me desprezas?
- pelo amor incondicional que te tinha, pelo erro grosseiro da tua traição, estou prisioneira dos petrificados dogmas da vida quotidiana.
- reclamo a inoquidade da minha traição, alheia a citações da tomada de consciência, tinha de te trair, estive enclausurado no meu amor, convulsiva teia de excremento! a traição era o acto e não a flecha. cativo naquele trágico escolho de insatisfação de ocupante do cais, enganando o tempo em cafés e cigarros... transbordando na vontade de fazer a romaria das artérias. anoitecias "mulher da noite doente em que os homens se perdem", eu transbordando de vontade de desfolhar a algazarra.
-traíste-me!
- como ousas? não alterei nenhuma das tuas regras, não abusei da tua vergonha, afinal foi pelo amor incondicional que te tenho. não posso dispensar esse amor. e tu? porque só agora me desprezas? ela libertou-te da fúria dos teus ciúmes,porque só agora não te deitas comigo?
- inverteste as leis naturais, não vejo utilidade nessa tua falsa consciência! não vejo utilidade em secar o calafrio do pêndulo.
- reclamo para mim a inocuidade da minha traição.
ana monteiro
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