Lembrei-me agora de uma expressão de Sloterdijk com a qual Benjamin não poderia estar mais de acordo: “nos tempos messiânicos, as putas e outras superfícies ilusórias reduzem-se ao modo de ser do puro valor de uso”. Assaltou-me, de imediato, a memória, um retalho passado, e que me levou a rir dos atalhos das minhas sinapses! Em conversa com um amigo sobre a hipocrisia que faz caminho na política lembrei um episódio hilariante, uma auto-intitulada alta dirigente local (do distrito) do partido a que pertenci, bloco de esquerda, insinuou-se-me um dia para lhe ir comprar a pílula do dia seguinte, sendo uma mulher casada e, o relacionamento pouco seguro ter ocorrido fora do matrimónio, poderia ser uma mácula na respeitabilidade da dita. Claro que fiz ouvidos de mercadora!!! O facto só por si não me provocaria grande choque, não fossem as campanhas, que levam pelo país fora, em que vejo esta gente envolvida em favor do aborto, em favor do sexo seguro e da prevenção do H.I.V. é espantoso perceber que estas pessoas para as quais, publicamente, nas suas tribunas reivindicativas, no ornamentado espaço da “tele-realidade”, estas são causas civilizacionais, a quintessência civilizacional incontornável, rendem-se no espaço esvaziado de ideias e não fazem eco claro no seu íntimo nem nas suas vestes utilitárias.” Viva, então, a hipocrisia? Vivam os patéticos tectos permeáveis aos interesses pessoais?
Mas… Confesso que não me fere um pouco de “negligé moral”, muito característica entre os artistas, que nada tem a ver com este “mascarado” de realidade…
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