"Esta frase está escrita num azulejo, por cima de uma fonte no monte do Tarabau, em Nisa. Propriedade de um dos “donos” do concelho que dava trabalho quase escravo na década de 60. Ali, assalariados rurais trabalhavam de sol a sol, e no verão em dias de boa lua sachavam milharadas a “meias” para o patrão. Dormiam a sesta e trabalhavam ao sábado.
Com a queda da ditadura espelhou-se felicidade nos seus rostos, bronzeados do sol. Jamais o esquecerei, apesar de muito jovem. A partir daí começaram a votar, no Partido Comunista, claro!
Ainda acontece, ao entrarmos nos serviços públicos, sejam eles da administração geral ou local, ter alguém que vem para nos desenrascar. Nalgumas entradas há indivíduos que nos podem ajudar, que montam a mesinha escritório desmontável, que nos ajudam a preencher os papéis e cobram, claro!
Recebem-se prendas e fazem-se negócios com a maior das naturalidades, com o espírito de entreajuda e missão.
Levam-se receitas ao médico para, de uma “acentada”, rubricar para o “utente amigo”, aviar na Farmácia que mais lhe aprouver, ou recolhidas por alguém da “rede” medicamentosa (para a rede, na aldeia, instituição misericordiosa ou outra).
No poder local não é diferente, há filhos e enteados. Se conheces ou acertas no elo certo, estás desenrascado, se tens azar no jogo, podes andar dezenas de anos para resolver coisas simples, trocar imensas cartas e ofícios. Contudo o mais certo é não resolveres o teu caso, desgastando-te e consumindo-te até ao limite…
Mas procura e encontrarás, pergunta logo ao balcão. – Quem pode desenrascar a coisa? Pergunta num café próximo! Também podes perguntar ao Engenheiro do género Sócrates, daqueles que não sabem para onde a água corre! Ao Senhor Arquitecto “Fulano de Tal”, à Senhora Doutora, Senhor Doutor, ao operário. Ao administrativo na entrada do serviço do qual procuras uma solução, ao desenhador, mesmo ao telefonista… quase todos. Mas ao entrares não te esqueças de tirar o chapéu.
Muitos anos de ditadura geraram estes comportamentos, esta cultura de tirar o chapéu, de subserviência, serviçal, enfim de misericórdia. Ainda está latente no nosso país, com mais vigor na nossa região, este interior abandonado!"
José Moura - Nisa
Com a queda da ditadura espelhou-se felicidade nos seus rostos, bronzeados do sol. Jamais o esquecerei, apesar de muito jovem. A partir daí começaram a votar, no Partido Comunista, claro!
Ainda acontece, ao entrarmos nos serviços públicos, sejam eles da administração geral ou local, ter alguém que vem para nos desenrascar. Nalgumas entradas há indivíduos que nos podem ajudar, que montam a mesinha escritório desmontável, que nos ajudam a preencher os papéis e cobram, claro!
Recebem-se prendas e fazem-se negócios com a maior das naturalidades, com o espírito de entreajuda e missão.
Levam-se receitas ao médico para, de uma “acentada”, rubricar para o “utente amigo”, aviar na Farmácia que mais lhe aprouver, ou recolhidas por alguém da “rede” medicamentosa (para a rede, na aldeia, instituição misericordiosa ou outra).
No poder local não é diferente, há filhos e enteados. Se conheces ou acertas no elo certo, estás desenrascado, se tens azar no jogo, podes andar dezenas de anos para resolver coisas simples, trocar imensas cartas e ofícios. Contudo o mais certo é não resolveres o teu caso, desgastando-te e consumindo-te até ao limite…
Mas procura e encontrarás, pergunta logo ao balcão. – Quem pode desenrascar a coisa? Pergunta num café próximo! Também podes perguntar ao Engenheiro do género Sócrates, daqueles que não sabem para onde a água corre! Ao Senhor Arquitecto “Fulano de Tal”, à Senhora Doutora, Senhor Doutor, ao operário. Ao administrativo na entrada do serviço do qual procuras uma solução, ao desenhador, mesmo ao telefonista… quase todos. Mas ao entrares não te esqueças de tirar o chapéu.
Muitos anos de ditadura geraram estes comportamentos, esta cultura de tirar o chapéu, de subserviência, serviçal, enfim de misericórdia. Ainda está latente no nosso país, com mais vigor na nossa região, este interior abandonado!"
José Moura - Nisa