Passei hoje na Culturgest, exposições como as de Koenraad Dedobbeleer(?), e as suas formas de “ bricolage expedita”(?), instalam na prerrogativa da minha felicidade um campo de batalha, colocam-me no trágico estádio bárbaro (ignorante) da formação do meu gosto e da formulação do meu juízo estético.
O texto de apresentação prometia objectos do quotidiano em formas, funções, tamanhos e cores diferentes do que estamos habituados no quotidiano, mas... uma foto duma mesa virada do avesso, em cima de outra na posição correcta?? Nem o nome pomposo do tipo “vãs pretensões”(não havia lá nada com este nome, mas serve de exemplo), não chega para intoxicar os meus sentidos de deleite. Entrei lá numa sala (integrante da exposição) apenas com paredes, paredes muito brancas, e comecei a imaginar... lá mesmo no fundo um enorme cagalhoto com o nome tão grande como o dito: “isto não é um enorme cagalhoto, pode até parecer um enorme cagalhoto, pode cheirar a cagalhoto um enorme cagalhoto, pode saber a um enorme cagalhoto, mas isto não é um enorme cagalhoto... não pise o enorme cagalhote que não é um enorme cagalhoto ”… fica então o aviso!!!
Aquela exposição fez-me recuar o passo até ao apogeu daquelas décadas em que nos convidavam a não recear pelas novas formas de arte, a não recear o debate em torno do que poderia entender por arte, a não recear o debate em torno do debate animado sobre a valência estética… agora já me parece inconveniente… não sei se contaminada pelo meu estádio estético ainda bárbaro…
Sou um ser extremamente sensível, teimava em mim o desgosto de não conseguir acreditar que aquelas coisas tinham significado. Para arrefecer a falta do ânimo, decidi fazer parte do caminho de regresso a pé… O êxodo foi abençoado, usei a chuva como pretexto, não para cortar o cabelo, mas, para me sentar numa cadeira dentro de uma barbearia… naquele cenário instalou-se o deleite e a saciedade nos meus sentidos:) :) :) o eloquente ataque tesoura sempre em riste e em coragem, incapaz de falhar na intenção… a vigilância agitada da tesoura estava a dar cabo de todas as minhas fraquezas… a autoritária exposição da tesoura estava a implantar o estremecer em todos os meus sentidos… mesmo na cadeira da “sala de espera” não consegui esquivar-me no pretexto conversa… gostava de ficar sentada numa barbearia, dessas… com aquelas cadeiras… inútil será aqui descrevê-las... com aquelas navalhas… inútil será aqui descrevê-las… com aqueles espelhos… inútil será aqui descrevê-los… com aquela luz… inútil será aqui descrevê-la… com aquelas batas brancas… inútil será descrever a forma como incorporam a luz… mas... era impossível... a insurreição contra a chuva que já não caía... era impossível…Quando voltei à rua, reparei num expedito batom aconchegado junto à rude árvore… apenas a árvore e o expedito batom… já sem chuva... de que o batom se poderia estar a proteger…talvez na recolha do mel…
ana maria
1 comentário:
Mas que pena não ter partilhado esta expriência contigo. Ando mesmo a precisar de cortar o cabelo.
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