"O grande reformador da “commedia dell’arte”e um dos maiores dramaturgos do século XVIII nasceu em Veneza em 1707, no seio de uma família burguesa. Pouco interessado em medicina, profissão que o pai exercia, foi estudar filosofia no Colégio de Rimini mas em 1721, com apenas 14 anos, abandonou os estudos para seguir uma trupe de comediantes. O teatro apaixonava-o: gostava de ver, de escrever e até de representar. No entanto, a morte do progenitor obrigou-o a ir estudar Direito e a formar-se em advocacia, o que lhe permitiu ter vários empregos e garantir o seu sustento.
Em 1734, aos 27 anos, aceitou o cargo de poeta residente da companhia de teatro lírico de Giuseppe Imer, para o qual escreveu interlúdios cómicos, tragédias e tragicomédias, e, dois anos depois, mercê do seu rendimento fixo, pôde casar-se com a fiel Genoveva Nicoletta Conio. Mas foi só no ano de 1738, aos 31 anos, que Goldoni encontrou a sua verdadeira vocação: as comédias. Nesse ano, escreveu a peça “Momolo Cortesan”, na qual o protagonista tinha o texto todo escrito.
Iniciava-se, assim, a renovação da “commedia dell’arte”: até então, os papéis das personagens principais eram improvisados e dependiam muito do talento dos actores. Goldoni pôs a tónica no texto e desviou a atenção para a qualidade dos autores. Embora mantendo as figuras tipo e a estrutura coreográfica da acção da “commedia dell’arte”, aprofundou a caracterização das personagens e empenhou-se em retratar a classe média da sua época. Pelas peças de Goldoni perpassam, como em mais lado algum, a moral e os costumes do século XVIII.
Em 1747, Goldoni conheceu Gerolamo Medebach, director da companhia Sant’Angelo e aceitou o cargo de poeta residente da trupe. Finalmente, pôde renunciar à advocacia para se dedicar inteiramente ao teatro. Foi a época do seu apogeu: só na temporada de 1750-51 escreveu nada menos do que 16 comédias. Até que, em 1753 (no mesmo ano em que escreveu “A Estalajadeira”), e desentendendo-se com Medebach, decidiu abandonar a companhia e entrar para o teatro San Luca, com o qual permaneceu dez anos, na qualidade de autor residente e director de actores.
Alguns insucessos e uma disputa com o rival Carlo Gozzi, defensor de um teatro menos popular e mais literário e elitista, acabaram por levar Goldoni a abandonar Veneza, em 1762, e a partir para Paris, onde foi trabalhar para a Comédie-Italienne, para a qual escreveu peças de sucesso seguro e onde se tornou professor de italiano das filhas de Luís XV. Aí escreveu as suas “Memórias” (publicadas em 1787) e morreu, em 1793, quase na miséria, depois da Revolução Francesa lhe ter retirado a pensão que o rei lhe tinha conferido."
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