sexta-feira, 9 de julho de 2010

...música, vuvuzelas e poder local...

"Ontem assisti a algo que achava altamente improvável que acontecesse, tantos anos depois do 25 de Abril. E por ter acontecido aqui fica patente a minha indignação.
Por considerar ter sido uma excelente ideia fui ontem assistir ao concerto de música erudita que a Fundação Trepadeira Azul promoveu na Quinta de Sto. António, freguesia de Aldeia Viçosa, no fantástico Vale do Mondego. Poder ouvir boa música naquele enquadramento tão belo era um raro privilégio e eu não podia perder essa oportunidade. Mal eu sabia que a noite acabaria estragada.
De repente, ao portão da quinta e de acesso ao concerto, o presidente da junta da Aldeia Viçosa (Baltasar Lopes) vociferava. Aos berros e num ambiente de grande agressividade declarava que "só por cima do seu cadáver" ali se faria o concerto. E explicou o plano: ele e os acompanhantes tocariam "bobozelas" durante o concerto, de forma a impedir que ele se realizasse. O homem insultava o promotor do concerto (por questões estranhas à iniciativa) e os assistentes ("bananas" foi o mais meigo que lhes chamou) e vinha com um propósito declarado: impedir que os assistentes ouvissem o concerto. Impediria, com os seus gritos e com as tais "bobozelas", que os espectadores tivessem acesso ao concerto. A cena era inacreditável: Baltasar aos berros e a soprar na "bobozela" num ambiente caceteiro e arruaceiro. Os argumentos (?) que levaram Batasar a ter aquela iniciativa de boicote a uma iniciativa devidamente autorizada são do domínio judicial e, portanto, não chamados para ali (Mário Martins tem ganho as acções que interpõe, e isso há-de significar alguma coisa). Assim, Baltasar, no fundo, protestou aos berros contra decisões judiciais... boicotando activamente um ... concerto de música erudita. Ninguém se lembraria disso mas... este presidente da junta lembrou-se!!! Ele e o grupo criaram uma situação de ameaça, de insultos, de pressão psicológica insustentável. Quem chegava deparava com aquela cena. O medo pairava no ar. A intimidação era tal que os espectadores se sentiram ameaçados com a atitude do presidente da junta Como é possível que um autarca boicote (assumidamente) uma iniciativa que promove a sua terra? Quem se revê no se comportamento de intimidação e de força?
O concerto não podia começar e então chamou-se a GNR, que prontamente explicou ao autarca o absurdo da situação. Espectadores mais afoitos tentaram que Baltasar percebesse o desequilíbrio da cena, mas ele não queria ouvir ninguém. Há uma centena de testemunhas do seu comportamento (uma vereadora da Câmara, um deputado municipal e gente de todo o país, que não queria acreditar no que estava a acontecer). O homem não se acalmou com a GNR: afirmou que continuaria a tocar "bobozela" pois ninguém o poderia prender por comemorar a vitória da... Argentina. Dito isto, a GNR (que parecia conhecê-lo) percebeu que tipo de pessoa estava a enfrentar. Baltasar declarou ainda que pagava as multas que fossem precisas (só pode haver ruído até às 22 horas). A GNR não o deteve apesar da atitude de desafio à autoridade.
Decidiu-se e bem que o concerto começaria. E o que aconteceu é inimaginável: apesar da presença da GNR o som das "bobozelas" sobrepunha-se aos temas de rara beleza. Com requintes de malvadez: as "bobozelas" espalharam-se à volta da quinta, como se cercassem aquela iniciativa artística e... nos cercassem ( a nós que fomos ouvir... um concerto). Só no tema final se calaram as cornetas. Finalmente.
Eu sei que este assunto é um caso de polícia mas é também um caso de política. Que dirá o presidente da Câmara, que autorizou o concerto? Baltasar não se cansou de dizer que " a culpa era da Câmara que apoia isto. Que fará a Câmara depois desta cena? E o senhor Governador (garante da "ordem") que dirá, ele que é um democrata? Calar-se-ão todos? Como se calaram, ontem, os moradores de Aldeia Viçosa, envergonhados pelo facto de um representante do poder local proceder de uma forma que... nos envergonha a todos? " extraído de www.cafe-mondego.blogspot.com

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