"O "The Atrocity Exhibition", que infelizmente não tem edição portuguesa, é um livro central na obra de J.G. Ballard: por um lado, é aquele em que o autor mais cultiva a experimentação narrativa, um pouco na senda do que o William S. Burroughs fazia com a técnica do cut-up, experimentação que é levada ainda mais longe na edição de 1990, onde acrescenta e incorpora no próprio enredo os seus comentários à versão de 1969; por outro, porque nele germinam já os assuntos que irão ser abordados e explorados nos seus livros posteriores, de "Crash" a "Super-Cannes" ou "Millennium People". O que nos levou a pegar em Ballard, para além de ser um autor apreciado no seio da banda, foi o facto de nos propiciar uma chave para a reflexão sobre a contemporaneidade, não já na sua dimensão política, como havíamos feito com o "Há Já Muito Tempo que Nesta Latrina o Ar se Tornou Irrespirável", ou na sua dimensão afectiva, como tinha acontecido com "Nus", mas na sua dimensão biológica, dos padrões comportamentais de uma espécie em função do seu meio ambiente: a sua obra, e este livro em particular, ao perspectivar a faculdade do panorama mediático e tecnológico invadir e desestruturar a percepção mental do indivíduo, abria um vasto campo de pesquisa sobre a sociedade pós-industrial na sua faceta psicótica. A circunstância do livro estar organizado em "novelas condensadas" - como Ballard definia os parágrafos independentes que se entrançam e compõem os seus diferentes capítulos -, com o seu manancial de imagens e episódios desgarrados, sem um início e um final claros, facilitava-nos ainda a temática para as canções e libertava-nos da conceitualização do disco numa lógica evolutiva fechada. Tudo isto fazia com que fosse uma escolha apropriada para um álbum que queríamos marcadamente rock e de canções maioritariamente curtas." Adolfo Lúxuria Canibal
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