A desburocratização da actividade docente é o oxigénio que permitirá a possibilidade do ensino e, como alguns defendem, um dos passos essenciais para a redefinição do poder democrático da escola nesta sociedade de incertezas e de abundância de informação.
Em Portugal tem sido discutida a responsabilidade na origem do problema: mais à esquerda ou mais à direita?
Pela prática política - nalguns casos político-sindical - ou pelo que se escreve, não há qualquer dúvida: a contaminação tem sido transversal e as propostas de solução inserem-se no tradicional "mais do mesmo". O que encontramos é um consenso que asfixia e que muitos denominam de eduquês. Basta conhecer o histórico de quatro ou cinco matérias:
- decisões ao nível do bloco de organização escolar;
-secundarização dos conteúdos de ensino em favor das competências de aprendizagem;
- estatuto do aluno;
- invenções técnico-pedagógicas;
- critérios de avaliação dos alunos:
Peguemos nalguns exemplos.
É incomparável a carga burocrática que se inventou para a fundamentação de uma nota negativa em relação a uma positiva. Essa desconfiança generalizada nos professores é transversal, não recebe uma voz institucional de protesto e não beneficia quem quer que seja muito menos os alunos necessitados de educação especial.
Mas os professores também não se livram do contributo para o estado de sítio burocrático. Como bem escreveu José Luiz Sarmento, do blogue "As minhas leituras", aqui, mais do que esquerda e direita (neste caso de análise interna da escola) devemos falar de racionalidade versus inutilidade.
Socorramo-nos pois de um exemplo recorrente no século passado. Quando alguém passava a dirigir um qualquer órgão, conselho executivo, pedagógico ou de departamento, e tinha de apresentar o programa de acção respectivo, procedia como? Em vez da racionalidade de apresentar uma proposta escrita, iniciava a primeira reunião com a seguinte formulação: "gostava de saber quem são os voluntários para redigir o programa (ou o projecto)".
Esta demissão impregnada de democraticidade (muitas vezes para esconder uma notória incapacidade em estabelecer propósitos concretos) deixava o ambiente embaraçado, era de uma evidente inutilidade, gerava desperdício de tempo, em regra burocratizava o processo e terminava numa cópia do primeiro exemplar externo que aparecesse pelo caminho.
Este estado de inoperância organizacional alastrava-se, conduzia as instituições a uma improdutividade exasperante e era assumido à esquerda e à direita." aqui
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