domingo, 12 de julho de 2009

A desmistificação da verdade absoluta

Associada à filosofia contemporânea está a noção de crise, principalmente no conceito natureza humana e de verdade. A crença no homem como ser racional e capaz de conhecer e dominar a realidade, cai por terra com Marx, Freud e Nietzsche. Foucault diz que estes três filósofos abriram feridas inextinguíveis no pensamento actual, mudando a própria forma de interpretar a realidade num espaço com outra profundidade.
Sendo as relações materiais, responsáveis pelo rumo da história, infra-estrutura, condicionantes da vida e determinantes do pensamento, residindo nas forças económicas o rumo da história, sendo as condições materiais que suportam a super-estrutura, onde, o cérebro que constrói os sistemas filosóficos é o mesmo que constrói as estradas de ferro com as mãos dos operários, Marx não aceita o conceito de verdade universal, sendo esta a manifestação das ideias dominantes e a do interesse da classe dominante.
Marx apontou, desde logo, o dedo ao facto de não ser a consciência que domina a vida, mas a vida que domina a consciência, operando aqui a inversão teoria/prática, com acentuação na praxis revolucionária. O homem é um ser maleável que se projecta e constrói ele próprio o seu processo de emancipação pelo trabalho, dominando e transformando a própria natureza. O homem é aquilo que faz, a moral, a religião, a filosofia, estão necessariamente ligadas à praxis humana, sendo condicionadas por aquilo que o homem faz.
Freud, através da psicanálise, enfatizou o papel do inconsciente e dá voz à irracionalidade das paixões, pulsões e desejos, como motores do comportamento humano.
Nietzsche manteve o seu debate com a profundidade, nas palavras de Foucault, criticando a profundidade ideal ou de consciência, inventada pelos próprios filósofos, como uma procura inferior e mutiladora da profundidade, revelando-se na hipocrisia, na resignação e na máscara, que revelou apenas uma ruga da superficíe.
Sabemos que para Nietzsche o mundo desenvolve-se numa transformação constante, alheio à ordem e à racionalidade, e atravessada pela relatividade da verdade e pelo caos, a desordem e o fracasso em que o ser humano vive, lutando assim contra a vontade da verdade como absoluta e metafisicamente fundada, apoiada no ideal ascético. O ideal ascético foi até agora senhor de toda filosofia, [...] a verdade foi entronizada como Ser, como Deus, como instância suprema [...] A partir do momento em que a fé no Deus do ideal ascético é negada, passa a existir um novo problema: o problema do valor da verdade. – A Vontade de verdade requer uma crítica – com isso determinamos nossa tarefa –, o valor da verdade será posto em questão, palavras de Nietzsche na Genealogia da Moral. Não podemos deduzir que Nietzsche negue a verdade, mas sim a verdade absoluta, apontando para uma verdade como interpretação ou construção humana.
Nietzsche, na obra Genealogia da Moral destrona o conceito de Eu fixo e acabado, revelando-se contra a monadização da alma e afirmando a pluralidade dessa mesma alma. Para Nietzshe este conceito, e mesmo de homem, é uma criação domesticada, revelando-se grande crítico da noção grega de homem como racional e do seu conceito biblico de homem como imagem do deus. Nietzsche recupera a ideia anterior a Sócrates em que o homem era o exercício dos seus intintos, realizado na figura do super-homem, arredado da ideia de homem como ser consciente, responsável, trabalhador, respeitador das leis e temente a Deus. A origem da má consciência do homem faz-se no reprimir cruel dos instintos pela razão, pela sociedade, pela culpa, pela justiça, adoecendo o homem, tornando-se fraco e religioso. Para Nietzsche o paradigma da racionalidade que culmina na era moderna e subjuga os instintos criadores no homem.

Ana Monteiro

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