sexta-feira, 31 de julho de 2009

...dono de uma voz inconfundível, o poeta canadiano encantou quem o viu e ouviu em lisboa esta noite...

"Num Verão que ficará na memória dos lisboetas como o dos veteranos (o que faltou para trazer também Tom Waits?), um dos concertos que melhores recordações trará será com certeza aquele que o canadiano Leonard Cohen deu esta noite. Simpatia para dar e vender (referiu-se sempre à audiência como "caros amigos"), uma boa-disposição contagiante (por várias vezes saiu de palco a saltitar qual criança de 10 anos) e uma voz que não parece ter envelhecido, foram trunfos que Cohen usou para encher as medidas, até dos mais exigentes.
Um público maioritariamente composto por pessoas de uma faixa etária bem mais elevada que aquela que passou pelo Passeio Marítimo de Algés há uma semana, cantou, dançou e não parou de elogiar o cantor e a banda. No entanto, como comentava alguém à entrada, o cantor e escritor de canções arrasta uma legião de fãs que abarca várias gerações, pelo que não foi de estranhar a presença de filhos e netos (estrangeiros a rodos, também).
Pontualidade britânica, à hora marcada Cohen atacava já um dos seus temas mais conhecidos. "Dance Me to the End of Love" abriu um concerto de mais de duas horas, com um intervalo pelo meio. Do alto dos seus 73 anos, o cantor e escritor de canções continua um cavalheiro - chapéu e indumentária a condizer com a condição - partilhando o protagonismo com uma banda e um coro irrepreensíveis e agradecendo várias vezes o carinho de um público que até flores lhe arremessou.
Um alinhamento que não deixou de parte nenhuma das canções mais esperadas (uma pena não se ter ouvido "The Guests", no entanto) formou uma espécie de retrospectiva de carreira. Os três elementos do coro feminino fazem o contraponto perfeito (e sem excessos despropositados) à voz ainda encorpada e indescritivelmente profunda de Cohen. Os maiores arrepios chegaram, como seria de esperar, com "Hallelujah" e "Suzanne" (ambos na segunda metade do concerto) mas o momento eleito pelo público terá sido mesmo "I'm Your Man", com direito a coro bem afinado.
Sem o aparato de ecrãs gigantes, em palco o cantor de farta cabeleira branca desliza como uma sombra, fazendo ressoar a voz por um espaço bastante composto e iluminado por uma lua bem redonda. Entre agradecimentos, e antes da mensagem urgente de "Anthem", Cohen faz uma pausa para elogiar a música portuguesa e falar de um "mundo mergulhado no caos". Antes, já "Everybody Knows" e "Hey, That's No Way to Say Goodbye" tinham deixado o público totalmente rendido.
Coube a "Tower of Song" abrir com chave de ouro (e bastante garra) a segunda metade da actuação - o verso "I was born with the gift of a golden voice" arrancou, previsivelmente, ovação espontânea. "Boogie Street" é servido em formato de dueto intimista com Sharon Robinson e, antes do encore, "Take This Waltz" faz (mesmo) dançar.
O regresso ao palco é feito em passo vigoroso e bem-disposto. Com a garra de alguém por quem a idade não passou, incendeia os ânimos com "So Long, Marianne" e continua em alta com o ritmo galopante de "First We Take Manhattan". O solene "Sisters of Mercy" é apresentado depois de mais uma breve saída de palco e entrega depois de bandeja o protagonismos às Webb Sisters na prece hipnotizante de "If It Be Your Will".
"Closing Time" parecia querer encerrar a noite, mas, visivelmente satisfeito, Cohen regressa ainda para o íntimo "I Tried to Leave You". Solos para todos os elementos da banda, sempre convenientemente apresentados pelo anfitrião, numa despedida que termina em coro generalizado. "Obrigado por uma noite memorável", diz o cantor no final. Sem qualquer tipo de hesitação, retribuímos o agradecimento.
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