"Existe um território africano que ainda permanece colonizado. Está a sul de Marrocos, a escassos quilómetros da costa algarvia. É um país emerso na areia do deserto, um dos mais despovoados do mundo e chama-se Sahara Ocidental.
Dominados por Espanha até 1975, os sahauris proclamaram nesse ano a independência mas os Acordos de Madrid entregaram a determinação do país a Marrocos e à Mauritânia. Em 1979, a Mauritânia abdicou da sua parte do território mas o exército marroquino anexou o país e fixou-se no Sahara Ocidental até aos nossos dias. A guerra entre a movimento da Frente Polisario, que defende a auto-determinação da RASD (República Árabe Sahauri Democrática), e o reino marroquino, dura há 33 anos. Um conflito surdo e mudo que, ocasionalmente, faz soar minas e metralhadoras para despertar a atenção do mundo. A Polisario pede o referendo, Marrocos defende o direito de controle da região. Muitos especialistas em direito internacional traçam um paralelismo entre a anexação de Timor-Leste, pela Indonésia, e do Sahara Ocidental, por Marrocos.
No Sahara Ocidental foi construído um dos muros mais vergonhosos dos nossos tempos, com mais de 2000 quilómetros de betão ao longo de um campo de areia minada, dividindo os dois terços de território regidos por Marrocos da parcela libertada pela Polisario. Mais de 150 mil sahauris foram obrigados a esconder-se na Argélia e vivem hoje no campo de refugiados de Tindouf, considerado por António Guterres, Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, como um exemplo de organização em acampamentos de expatriados.
Este muro, minado de ponta a ponta e de ponta a ponta vigiado por milhares de soldados, mede 60 vezes mais do que o Muro de Berlim.
Por que será que há muros tão altissonantes e muros mudos?
Foi neste mundo hostil que Aminetu Haidar cresceu, em El Aaiún, capital do Sahara Ocidental. Haidar foi pela presa pela primeira vez em 1987, por se manifestar contra a ocupação marroquina durante uma visita da ONU ao país. Durante quatro anos, a sahauri foi torturada e humilhada nas celas sórdidas de El Aaiún, apelidada de “Prisão Negra” por todos aqueles que tiveram a má sorte de por lá passar. A activista passou quase quatro anos de olhos vendados, sozinha, foi brutalmente espancada e torturada para confessar a prática de acções de terrorismo que a condenassem a um julgamento legítimo. Em vão. Haidar é uma pacifista e não cedeu. Após a libertação, continuou a organizar manifestações pacíficas e greves de fome para alertar a opinião pública da repressão sentida pelos sahauris. Ao contrário de Xanana Gusmão, Haidar tem lutado sem armas. Isso já lhe valeu o cognome honorário de “Gandhi Sahauri” e vários reconhecimentos internacionais: Prémio Coragem Civil 2009 (EUA), Prémio de Direitos Humanos Robert F. Kennedy 2008 e Juan Maria Bandrés (Espanha).
Na passada sexta-feira, Haidar, casada e mãe de dois filhos, voltava para El Aaiún depois de uma conferência nas Canárias. À chegada ao aeroporto do deserto, recusou declarar-se marroquina. A polícia levou-a para uma pequena sala do aeroporto, desapropriou-a do passaporte e do telemóvel, disparou centenas de flashes em direcção aos seus olhos fragilizados por quatro anos de escuridão e expatriou-a para Lanzarote, Espanha. No domingo, Haidar entrou novamente em greve de fome. Quer voltar ao seu país mas está impedida de fazê-lo pelas autoridades espanholas e marroquinas. O caso já está a provocar uma onda de solidariedade por todo o mundo.
O problema dos sahauris, que se arrasta há mais de três décadas, não parece preocupar os diplomatas e políticos portugueses que tanto lutaram pela causa timorense. Pelo contrário, Portugal está inserido no programa de colaboração da União Europeia com Marrocos que permite aos arrastões europeus pescar nas ricas águas do Sahara Ocidental. Haidar continua a sacrificar-se para entregar aos sahauris o peixe das suas águas, para permitir aos refugiados de Tindouf o regresso à sua terra e para levar aos tribunais todos os torturadores dos activistas sahauris. O referendo já esteve iminente por duas vezes, mas Marrocos não aceitou os termos do sufrágio." Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental
Dominados por Espanha até 1975, os sahauris proclamaram nesse ano a independência mas os Acordos de Madrid entregaram a determinação do país a Marrocos e à Mauritânia. Em 1979, a Mauritânia abdicou da sua parte do território mas o exército marroquino anexou o país e fixou-se no Sahara Ocidental até aos nossos dias. A guerra entre a movimento da Frente Polisario, que defende a auto-determinação da RASD (República Árabe Sahauri Democrática), e o reino marroquino, dura há 33 anos. Um conflito surdo e mudo que, ocasionalmente, faz soar minas e metralhadoras para despertar a atenção do mundo. A Polisario pede o referendo, Marrocos defende o direito de controle da região. Muitos especialistas em direito internacional traçam um paralelismo entre a anexação de Timor-Leste, pela Indonésia, e do Sahara Ocidental, por Marrocos.
No Sahara Ocidental foi construído um dos muros mais vergonhosos dos nossos tempos, com mais de 2000 quilómetros de betão ao longo de um campo de areia minada, dividindo os dois terços de território regidos por Marrocos da parcela libertada pela Polisario. Mais de 150 mil sahauris foram obrigados a esconder-se na Argélia e vivem hoje no campo de refugiados de Tindouf, considerado por António Guterres, Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, como um exemplo de organização em acampamentos de expatriados.
Este muro, minado de ponta a ponta e de ponta a ponta vigiado por milhares de soldados, mede 60 vezes mais do que o Muro de Berlim.
Por que será que há muros tão altissonantes e muros mudos?
Foi neste mundo hostil que Aminetu Haidar cresceu, em El Aaiún, capital do Sahara Ocidental. Haidar foi pela presa pela primeira vez em 1987, por se manifestar contra a ocupação marroquina durante uma visita da ONU ao país. Durante quatro anos, a sahauri foi torturada e humilhada nas celas sórdidas de El Aaiún, apelidada de “Prisão Negra” por todos aqueles que tiveram a má sorte de por lá passar. A activista passou quase quatro anos de olhos vendados, sozinha, foi brutalmente espancada e torturada para confessar a prática de acções de terrorismo que a condenassem a um julgamento legítimo. Em vão. Haidar é uma pacifista e não cedeu. Após a libertação, continuou a organizar manifestações pacíficas e greves de fome para alertar a opinião pública da repressão sentida pelos sahauris. Ao contrário de Xanana Gusmão, Haidar tem lutado sem armas. Isso já lhe valeu o cognome honorário de “Gandhi Sahauri” e vários reconhecimentos internacionais: Prémio Coragem Civil 2009 (EUA), Prémio de Direitos Humanos Robert F. Kennedy 2008 e Juan Maria Bandrés (Espanha).
Na passada sexta-feira, Haidar, casada e mãe de dois filhos, voltava para El Aaiún depois de uma conferência nas Canárias. À chegada ao aeroporto do deserto, recusou declarar-se marroquina. A polícia levou-a para uma pequena sala do aeroporto, desapropriou-a do passaporte e do telemóvel, disparou centenas de flashes em direcção aos seus olhos fragilizados por quatro anos de escuridão e expatriou-a para Lanzarote, Espanha. No domingo, Haidar entrou novamente em greve de fome. Quer voltar ao seu país mas está impedida de fazê-lo pelas autoridades espanholas e marroquinas. O caso já está a provocar uma onda de solidariedade por todo o mundo.
O problema dos sahauris, que se arrasta há mais de três décadas, não parece preocupar os diplomatas e políticos portugueses que tanto lutaram pela causa timorense. Pelo contrário, Portugal está inserido no programa de colaboração da União Europeia com Marrocos que permite aos arrastões europeus pescar nas ricas águas do Sahara Ocidental. Haidar continua a sacrificar-se para entregar aos sahauris o peixe das suas águas, para permitir aos refugiados de Tindouf o regresso à sua terra e para levar aos tribunais todos os torturadores dos activistas sahauris. O referendo já esteve iminente por duas vezes, mas Marrocos não aceitou os termos do sufrágio." Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental
Sem comentários:
Enviar um comentário