"América está em guerra. Uma estranha e confusa Guerra Civil onde o 11 de Setembro e a guerra do Iraque não existem. Um conflito dentro da cabeça de August Brill, um crítico literário de 72 anos, preso a uma cadeira de rodas e aos problemas familiares. O novo livro de Paul Auster, «Homem na Escuridão», chega hoje às livrarias.
É já quase a meio do livro que se apresenta oficialmente a personagem principal: «Crítico literário reformado, setenta e dois anos, vive com a filha de quarenta e sete anos e a neta de vinte e três. A mulher dele morreu o ano passado. O marido da filha deixou-a há cinco anos. O namorado da neta foi morto.»
August Brill tem uma noite de insónias («mais uma noite em branco na imensidão da natureza selvagem da América») e a mente divaga. Os problemas familiares levam-no a reflectir sobre a sua própria vida ao mesmo tempo que inventa uma Guerra Civil nos Estados Unidos da América.
Aqui o 11 de Setembro não aconteceu, as Torres Gémeas ainda preenchem o céu de Nova Iorque e a guerra do Iraque nunca teve lugar. Em vez disso, os estados americanos estão em luta, e só há uma maneira de acabar com ela: Owen Brick (personagem inventada por August Brill) tem de matar o seu criador, o crítico literário cujas insónias o levam a criar mundos paralelos.
Paul Auster vai aparecendo nas entrelinhas, e há muito do autor por ali. Um ataque de tosse traz por momentos August Brill à realidade num momento em que se lembra dos protestos raciais em Newark de 1960. Essa é também uma parte da história de Paul Auster, essas páginas saíram directamente da vida dele.
Há também em «Homem na Escuridão» as narrativas intercaladas ao estilo de Paul Auster: de um lado uma personagem perdida numa Guerra Civil nos EUA do outro os dramas de uma família (quase) vencida pelas tragédias pessoais.
Não é um livro negro este, ainda assim. Depois de mergulhar fundo no poço de cada membro da família, a esperança surge na forma de uma frase de um poema de Rose Hawthorne, sobre quem a filha de Brill escreve um livro. Um verso de que August Brill gosta muito, e arriscamos a dizer que Auster também: «Enquanto o bizarro mundo continua a girar».
A morte no Líbano, em 2006, de Uri Gorssman, filho do escritor israelita David Grossman (a quem Paul Auster dedica o livro) foi o catalizador para escrever um livro sobre a famíla. Os destroços deixados pela morte de uma familiar roubado pela guerra é também uma das linhas mestras de «Homem na Escuridão». Eis o actual drama dos soldados norte-americanos puxado para dentro do livro. Mas esta obra é também, em parte, diz Paul Auster, uma reacção às eleições norte-americanas de 2000: “Al Gore ganhou e a vitória foi-lhe roubada pelos republicanos”, diz o autor.
Há momentos de fuga em «Homem na Escuridão». Sentados no sofá, avô (Agust Brill) e neta vêem e reveêm clássicos do cinema. Fogem das imagens que os assombram partindo para outras. Analisam filme a filme, cena a cena, elaboram teorias da criação cinematográfica. Imaginamos Paul Auster, escritor, ensaísta e também realizador a debitar todas as considerações sobre «objectos inanimados» nos filmes e a sua importância.
O próximo livro de Paul Auster já está terminado. «Invisible» tem como personagem central um jovem de vinte anos que vive em 1967. No cinema, não há nada planeado para os próximos tempos. Depois de «A vida interior de Martin Frost» (parcialmente rodado em Portugal), o autor ainda pensou levar ao grande ecrã «No país das últimas coisas», mas desisitiu do projecto." Vera Moutinho
É já quase a meio do livro que se apresenta oficialmente a personagem principal: «Crítico literário reformado, setenta e dois anos, vive com a filha de quarenta e sete anos e a neta de vinte e três. A mulher dele morreu o ano passado. O marido da filha deixou-a há cinco anos. O namorado da neta foi morto.»
August Brill tem uma noite de insónias («mais uma noite em branco na imensidão da natureza selvagem da América») e a mente divaga. Os problemas familiares levam-no a reflectir sobre a sua própria vida ao mesmo tempo que inventa uma Guerra Civil nos Estados Unidos da América.
Aqui o 11 de Setembro não aconteceu, as Torres Gémeas ainda preenchem o céu de Nova Iorque e a guerra do Iraque nunca teve lugar. Em vez disso, os estados americanos estão em luta, e só há uma maneira de acabar com ela: Owen Brick (personagem inventada por August Brill) tem de matar o seu criador, o crítico literário cujas insónias o levam a criar mundos paralelos.
Paul Auster vai aparecendo nas entrelinhas, e há muito do autor por ali. Um ataque de tosse traz por momentos August Brill à realidade num momento em que se lembra dos protestos raciais em Newark de 1960. Essa é também uma parte da história de Paul Auster, essas páginas saíram directamente da vida dele.
Há também em «Homem na Escuridão» as narrativas intercaladas ao estilo de Paul Auster: de um lado uma personagem perdida numa Guerra Civil nos EUA do outro os dramas de uma família (quase) vencida pelas tragédias pessoais.
Não é um livro negro este, ainda assim. Depois de mergulhar fundo no poço de cada membro da família, a esperança surge na forma de uma frase de um poema de Rose Hawthorne, sobre quem a filha de Brill escreve um livro. Um verso de que August Brill gosta muito, e arriscamos a dizer que Auster também: «Enquanto o bizarro mundo continua a girar».
A morte no Líbano, em 2006, de Uri Gorssman, filho do escritor israelita David Grossman (a quem Paul Auster dedica o livro) foi o catalizador para escrever um livro sobre a famíla. Os destroços deixados pela morte de uma familiar roubado pela guerra é também uma das linhas mestras de «Homem na Escuridão». Eis o actual drama dos soldados norte-americanos puxado para dentro do livro. Mas esta obra é também, em parte, diz Paul Auster, uma reacção às eleições norte-americanas de 2000: “Al Gore ganhou e a vitória foi-lhe roubada pelos republicanos”, diz o autor.
Há momentos de fuga em «Homem na Escuridão». Sentados no sofá, avô (Agust Brill) e neta vêem e reveêm clássicos do cinema. Fogem das imagens que os assombram partindo para outras. Analisam filme a filme, cena a cena, elaboram teorias da criação cinematográfica. Imaginamos Paul Auster, escritor, ensaísta e também realizador a debitar todas as considerações sobre «objectos inanimados» nos filmes e a sua importância.
O próximo livro de Paul Auster já está terminado. «Invisible» tem como personagem central um jovem de vinte anos que vive em 1967. No cinema, não há nada planeado para os próximos tempos. Depois de «A vida interior de Martin Frost» (parcialmente rodado em Portugal), o autor ainda pensou levar ao grande ecrã «No país das últimas coisas», mas desisitiu do projecto." Vera Moutinho
1 comentário:
Gostei tanto de Timbuktu que mesmo não duvidando da qualidade do autor não ousei ler mais nenhum livro dele.
Não quis estragar o sentimento...
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