quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

... a minha pérola política de dois mil e nove... discurso de vinte e cinco de abril na assembleia municipal da covilhã...

Este foi o texto... pus lá tudo o que senti para a ocasião, sem ignorar que todas as palavras me cairam das mãos... sem enganos na minha própria pessoa, "anarquista na teoria e anarquista na prática", porque hei-de vir então aqui ser humilde?  Ganhei, no entanto, o reparo de uma das chefias do bloco de esquerda: "não gosto que escrevas de forma erudita", mas... já não estava debaixo do seio da  canga de nenhuma lógica tribal (partido político) e sou irreparavelmente independente quando as sílabas vertem em meu nome... todo meu provincianismo permite-me ter algum orgulho no que escrevo bem:)


“Muitas vão suspender, mas eu vou aguentar nem que tenha de pedir para ir trabalhar, se quiserem, despeçam-me'', cito a vivência e o testemunho de Anabela Vicente. “É muito complicado querer dar de comer aos nossos filhos e não termos', cito a vivência e o testemunho de Lídia Clemente, vivências paradigmáticas da ausência de pão, da ausência de terra, da ausência de quotidiano… Testemunhos paradigmáticos do cortejo condenado dos oitocentos trabalhadores, na sua maioria mulheres, com salários em atraso nas confecções da cova da beira. Em cima de suas cabeças conta é a certeza da pena do tombar no olho da rua. No espectro das “fábricas de morte” paira a condenação ao dia da refeição e não à refeição do dia.
Dos representantes da classe dirigente local, o bem nutrido registo infame da ataraxia; a acústica da resposta ignóbil do desprezo, da indiferença, o resgate da absolvição subversiva. O descarado, mas não novo, eleitoralismo da refeição em troca de um euro, a formula perversa de mobilizar.
Mas de que lado estão estes senhores neste processo grotesco?
O monolítico poder local compromete-se contra tudo isto, burla a verdade, porque o benefício do primeiro milho é sempre engordar a galinha do vizinho. Compromete-se contra o trabalho de que cada mulher e homem são depositários. Contra a sua mais básica necessidade. Compromete-se contra a marca da sua dignidade – o trabalho - usurpando o seu poder à auto-determinação.
O monolítico poder local, que se deveria comprometer com o desenvolvimento de toda uma população, forja na economia doméstica “virtuosas” dívidas de 88 milhões de euros... oitenta e oito milhões de euros de “virtude” … afinal os tempos também deram uns retoques no próprio conceito de “virtude”. Esta dissimulada economia doméstica, completamente falida e incoerente, “virtuosamente” estéril, escandalosa na sabotagem nos sonhos de vida e de futuro de um povo.
Dos cavalheiros representantes da classe dirigente nacional a impostura, tacitamente velada, do reconhecimento da inevitabilidade do desemprego, 484.131mil inscritos no Instituto do Emprego durante o mês de Março em Portugal, na sua grande maioria mulheres, e a Covilhã acompanha este número na sua percentagem máxima.
Os cavalheiros representantes da classe dirigente nacional administram o país em seu nome, dissimulam a necessidade de se manterem no seio da impostura, longos passos se dão para alimentar banqueiros, estas figuras paradigmáticas, que na sua autópsia revelaram nas entranhas a absolvição da má gestão, do roubo descarado, dos milhões da corrupção.
Engenheira é vassalagem da classe dirigente nos fundos, dos nossos impostos, que debaixo da sua albarda, nos recolhe e lhes dispensa em linha recta.
Engenheira é a vassalagem, que se transforma em nada, que amortece na conjuntura internacional a falta de responsabilidade, o desnorte da má governação.
Engenheira é a corrida desenfreada para o auditório do poder que descarta no seu catecismo a clave da miséria económica e social, dos magros salários, suavizada nos arrebates eufemistas das rasteiras da propaganda, mais um penalty que afinal não era penalty.
Engenheira é a pestilenta incompreensão de como a proletária autonomia e a proletária vontade de vencer é forte e honesta.
Tombam nas ruas de Abril as reivindicações pelo trabalho, tombam no arbítrio da liberdade.
Duzentos postos de trabalho em risco no Tortosendo. Estão em dívida 40 por cento do salário de Fevereiro e o salário de Março, bem como metade do subsídio de férias e do subsídio de Natal de 2008.
Foi este povo trabalhador que teceu e transformou pelo seu trabalho a operária liberdade, e hoje, nas ruas de Abril, já se cunha a sua nostalgia póstuma!
Mas este povo é manso!
Tarda na insurreição operária!
Tarda a guerrilheira reivindicação do trabalho como um direito!
Tarda a desabrida vontade de tomar o aeroporto e ocupar a rádio!
Há qualquer coisa de bafiento no epicentro da esfinge podre deste poder, que na nossa cidade determina o que vai acontecer, mestres nas piruetas e nos artifícios da circunstância e da pompa que em altitude se iluminam, adulados, venerados e bajulados por espantalhos. Podre poder automaticamente poderoso que se entranha e insiste no desenfreio do florescimento do mercado imobiliário, que vai-se lá saber porquê, esta insistência não corresponde à procura real de habitação na cidade. Vai-se lá saber porquê!
No reservado da soberania monolítica do poder local, onde se soltam gargalhadas, tiraniza-se ao exílio a identidade de uma cidade, abandonam-se centenas de casas na zona histórica da cidade. Bairros que fizeram história, agora territórios condenados, que anunciam, numa nova era de descontinuidade paradigmática, o fim da alma e a marca da dignidade. Investe-se na propaganda de “salvadores da urbe”, onde todos os compromissos assumidos com as gentes se transformam em menos que nada, neste universo partido mutila-se uma cidade ao serviço da vontade de clientelas. No escalpe da toponímia da cidade nascem elevadores de vã glória, as pontes de vã de eternidade, templos do vão consumismo, promessas vãs de felicidade.
A vida é bela e agradável, para os mesmos beneficiários de sempre, os privilegiados de classe.
Há qualquer coisa de bafiento no ar que aqui já não se consegue respirar, os ares da globalização, do desenvolvimento, das obras “extruturantes”, do cosmopolitismo saloio.
A diferença é expurgada nesta cidade, na política do pontapé, no repertório passional trauliteiro, carroceiro e calhoeiro, varre-se deste concelho quem olhe de esguelha o servilismo lacaio do regime. Escorraçam-se os legítimos opositores democráticos, censuram-se artistas e intelectuais opositores. Vinga esta cultura de patrocínio autárquico, atolam-se os inventores de novas formas de democracia, de novas armas consistentes de libertação.
O medo faz caminho, o medo de não arranjar e o medo de perder o emprego, o medo de serem substituídos por outros mais “empenhados” e mais “praticantes”, o medo de não conseguir a licença da Câmara, o medo da marginalização, o medo das garras disformes da justiça… o medo de perder a cunha para o lugar num lar de idosos… o medo… o medo… o medo de quem não joga com as cartas viradas para cima. O medo de aplaudir quem se compromete e de quem não amocha, o medo de aplaudir o cidadão da esfera livre, denunciado e serpenteado, pela ignorância do regime, como nocivo para os “crentes”. A ignorante nostalgia da dominação do passado.
Mas este povo é manso!
Tarda a guerrilheira dignidade de abrir livros proibidos!
Tarda a guerrilheira vontade de atravessar a rua!
Tarda o relâmpago da liberdade!
“A DEMOCRACIA É UMA POTÊNCIA E NÃO UMA FORMA”
Começam já a travar-se por toda a parte, neste mundo fora, novas lutas por novas vidas… vidas alternativas … irrompem, por vezes de forma sofrida, novas forças criadoras… alternativas formas de mobilização… novas formas de autonomia além desta sanguessuga forma de fazer trilhos na história… novas formas, não de mera resistência, mas capazes de construir novas moradas insubmissas ao império do dinheiro… começam já a travar-se já por toda a parte, neste mundo fora, inversões de lógicas que arredaram o povo do direito a decidir o seu próprio destino… irrompem, por vezes de forma sofrida, novas formas criadoras… alternativas formas de dar lugar à consolidação da humanidade… novas formas de legitimar um poder alternativo, quando o actual está gasto...
“As cidades transformar-se-ão ao mesmo tempo grandes depósitos de humanidade cooperante e em locomotivas de circulação, residências temporárias e redes de distribuição de massa para a humanidade livre.”
Ana Maria de Jesus Monteiro

5 comentários:

Anónimo disse...

Gostas muito de te masturbar em público.
Os teus alunos já o sabem, quando vêem as pornografias nas aulas, agora que tenhas que mostrar a tua cosanguinidade de putedo, dispensa-nos...
Fáz isso na retrete, porra.
Metes dó.

manufactura disse...

...anónimo não quis deixar acabar o ano sem lhe dar a honra imensa de publicar um comentário seu no meu blog... a persistência valeu-lhe esse prémio...
...sou ideologicamente materialista, nunca me apercebi que da masturbação viesse algum mal ao mundo, mas, peço então desculpa se as minhas masturbações públicas congestionam o seu ego beato e deletério, o anónimo deve ser mais adepto de uma masturbação mais intíma,quiçá, o jacto do bidé, com a vantagem de não criar calo nos dedos:) :) :) quiça, dentro da solenidade de uma igreja na fluida fantasia do "ajoelhar"...
...nas minhas aulas a liberdade é sempre nua, viscosa e "pornográfica",não se ateiam fogueiras onde a lucidez se queima viva...
...ainda bem que na minha consaguinidade não existem capadores:):):) isso é que não!!!
... como acredito ser o anónimo, o mais atento das minhas masturbações...um bom ano para si...como diz o capinteira:"continue a ladrar à beira da minha estrada!!!"

Reverendo Bonifácio disse...

Uma coisa que me intriga realmente, vejam lá se o raciocínio está correcto: se alguem assiste repetidamente ao que considera ser às técnicas auto-eróticas de outra pessoa (sem que obviamentem a realização dessas técnicas dependam dessa assitência) então é o que podemos chamado de voyeur, ou o que próprio chamaria de tarado (para utilizar um registo mais próximo).
Só para não haver dúvidas: um gato que se preze não denigre nem o auto-erotismo, nem o voyeurismo, nem o mercantilismo sexual (nenhuma dessas práticas, por princípio, pressupõem danos nem dolo), já a hipocrisia...

Enfim, mas cá eu sou um gato.

José Ricardo Costa disse...

E por falar em pérolas, só resta mesmo fazeres o que é feito com a pérola no romance do Steinbeck. Mas, segundo julgo saber, já o fizeste há muito tempo.

JR

manufactura disse...

... mas em vez de ir à beira do mar, lançar a pérola o mais longe que consegui,lancei-a dentro da retrete... lá foi parar à torneira de algum lisboeta:) :) :)