domingo, 27 de dezembro de 2009

...re...re...re...re...ler...



" América foi o primeiro romance escrito por Kafka e um dos vários inacabados. Escrito em 1910 e apenas publicado em 1927 após a sua morte pelo seu grande amigo Max Brod, deixa muitas pontas soltas e muitas interrogações sobre o verdadeiro destino que o autor teria pensado para o seu protagonista. Possivelmente, é com este texto que Kafka pela primeira vez traça, o que vai ser ao longo da sua obra, o corpo da sua literatura: a exploração do universo interior do ser humano, a alienação e a perseguição, a atenção ao pormenor que transfigura a realidade numa verdade inverosímil. O protagonista desta aventura é Karl Rossman, um jovem de dezasseis anos que se vê obrigado pela família a emigrar para a América, consequência da humilhação sofrida por esta depois de ser seduzido pela criada que fica grávida. Na época em que o texto foi escrito, ocorria uma das maiores emigrações para este país, na esperança de alcançarem o tão afamado sonho americano. Este facto vai condicionar todo o discurso do texto, sendo-nos revelado a visão que o autor tinha, à época, deste país. No entanto longe se pense que Kafka nos apresenta a esperada visão optimista e promissora da América. Pelo contrário, e facto que torna o livro tão actual, a América revelada pelo autor apresentasse-nos como sendo opressora conforme podemos ver com o seu “jogo”, intencional ou não, com a estátua da liberdade. Retrata uma burguesia arrogante que se eleva do resto das classes, como por exemplo a operária.
Karl Rossman é um personagem simples e ingénuo. Pela sua inocência, é conduzido pelas personagens com que se cruza, sem grande resistência, sendo elas mesmas que nos vão revelando a personalidade do protagonista. Pensa sempre primeiro nos seus companheiros de viagem em vez de si próprio, como nos revelam os longos pensamentos introspectivos que consequentemente o impede de tomar decisões. Cada vez que Karl se esforça para subir na escala social ou para ajudar os seus companheiros a sociedade nega a sua vontade e subverte as suas intenções, tornando a sua situação ainda pior do que antes. Ironicamente, como se pode esperar nos romances de Kafka, é demitido por ajudar uma pessoa que ele ainda chama de amigo.
Embora Kafka nunca tenha visitado a América, adquiriu conhecimentos de fontes secundárias: leu livros de viagens sobre a américa, assistiu a palestras, recolheu materiais impressos, e falou com emigrantes, como revela EL Doctorow no prefácio do livro.
Em Amerika, Franz Kafka realmente satiriza ideais americanos por absurdamente retratar essa terra de oportunidades e traçar o destino irónico de Karl Rossman, enquanto ele luta para alcançar o sonho americano.
Através de seu retrato da América, Kafka rompe a concepção idealista desta terra de liberdade e, ao invés concebe uma imagem da América como uma terra cheia de assustadores malefícios sociais. Fornece uma crítica sombria da América que constrói a liberdade como uma aparição falsa."

Sem comentários: