Yair, um vendedor de livros raros, escreve uma carta arrebatada a Miriam, uma mulher bela que ele vê numa reunião da escola. Assim começa entre eles uma relação amorosa assente apenas em palavras que despertará em ambos sentimentos há muito adormecidos. A correspondência trocada leva-os à sua mais recôndita intimidade, revelando um homem que oscila entre duas vidas e uma mulher que evita recordar o seu passado.David Grossman nasceu em Jerusalém, em 1954, onde estudou filosofia e teatro na Universidade Hebraica. Trabalhou durante vinte e cinco anos na Israel Radio, onde, com dez anos, deu os primeiros passos como colaborador em programas infanto-juvenis.Entre as suas obras, contam-se "Jogger" (contos, 1983), "Smile of the Lamb" (romance, 1983), "Ver: Amor" (romance, 1986; Campo das Letras, 2004), "Riki’s Playgroup" (drama, 1988), "Sleeping on a Wire" (ensaio, 1992) e "Once upon a Time You Were Two Monkeys" (infanto-juvenil, 1996).«Miriam,Não me conheces e eu próprio também não me conheço quando te escrevo. Tentei não escrever, há dois dias que tento, e agora não resisti.Vi-te anteontem na reunião de finalistas, tu não me viste porque eu estava de lado e provavelmente num ponto invisível para ti. Alguém disse o teu nome, uns jovens chamaram-te “professora”, estavas com um homem alto, aparentemente o teu marido. É tudo quanto sei de ti, e já é demais para mim. Não tenhas medo – não quero encontrar-te nem atrapalhar a tua vida normal, mas gostaria que aceitasses receber as minhas cartas. Ou seja – que pudesse falar-te de mim (de vez em quando) por carta. Não porque a minha vida tenha um interesse por aí além (não tem, e não me queixo), mas quero dar-te aquilo que não tenho mais ninguém a quem dar. Refiro-me a coisas que eu nunca pensei poder ou sequer querer dar a alguém exterior. É óbvio que isto não te obriga a nada, não precisas de responder (e estou quase certo de que não me vais responder), mas caso queiras dar um sinal de que as lês, escrevo no envelope o número da caixa postal que aluguei esta manhã só para ti.Se for preciso explicar, não vale a pena, nem precisas de responder, porque significa que me enganei contigo. Mas se tu és aquela que eu vi lá, a abraçar-se a si própria, com um sorriso um pouco magoado, penso que entenderás. Yair W.»**************************«Sei que houve muitos debates sobre este livro na Internet e que houve pessoas que iniciaram correspondências baseadas nesta. Para não falar de uns 12 casamentos a que tive de ir porque os noivos diziam que se tinham casado por causa deste livro. Mas também houve quem se divorciasse, o que nunca me aconteceu. Foi a primeira vez que um dos meus livros causou uma coisa destas. (…)Foram anos muito maus e eu insisti em escrever esta história sobre duas pessoas por sentir que a situação exterior era tão horrível e intrusiva, a invadir, a envenenar cada parte da nossa vida com medo e violência. Eu precisava de criar esta bolha de intimidade.Claro que, entretanto, escrevi muitos artigos políticos, fiz conferências, falei em manifestações, participei em iniciativas de paz, tudo isso. Mas na literatura precisava de lembrar que, apesar de sermos israelitas, temos direito a alguma intimidade, a este tipo de amor, e de insistir nas nossas emoções. Não permitir que a nossa alma encolha como encolheu naqueles anos, porque cada vez que tocava na realidade era doloroso e queimava.»DAVID GROSSMAN em entrevista a ALEXANDRA LUCAS COELHO, Público/Ípsilon, 9/11/2007«"Em Carne Viva" pode ser a mais estranha e triste história de amor alguma vez contada.» LOS ANGELES TIMES BOOK REVIEW«Irresistível… a intensidade emocional do romance de Grossman começa no grau máximo e mantém-se sempre no mesmo nível.»SUNDAY TELEGRAPH"A dor é um lugar largo. Pelos sentidos, ela expande-se ao exterior do corpo, tomando, adicta, sempre novos territórios. Quando a dor encontra a palavra certa, esta passa a ser um instrumento ao seu serviço e um lugar onde passa a habitar. «Em Carne Viva» é um livro do israelita David Grossman, com a morfologia da dor no seu interior, desenhada nos seus nervos pujantes, no labirinto, na exaustão. Raramente a literatura falou assim da dor. Muito raramente uma dor literária tem tido o poder de se comunicar com a dor sentida de cada leitor. «o amor é que tu sejas a faca com a qual eu escavo dentro de mim», escreve Miriam na sua embriaguês amorosa por Yair, o homem que iniciou o jogo perigoso entre os dois: uma fantasia assente apenas na correspondência trocada entre ambos, que, lesta, lhes desnuda as almas, abre cicatrizes, e a carne viva das palavras esmiúça os sentimentos até à loucura. Com a chancela da Campo das Letras, esta é uma estranha história de amor intenso, pungente e inquietante que o leitor dificilmente esquecerá." TERESA SÁ COUTO ( http://comlivros-teresa.blogspot.com/ )
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